Sugestão para recoverys

São destas coisas que animam os dias duros, surpresas que surgem a cada dia, talvez só possíveis andando de bicicleta.
"Pelo S. Martinho prova o teu vinho!"
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New York City Ground Zero. Foto Depositphotos |
Imagem Depositphotos |
(Para ouvir em podcast clique aqui)
O envolvimento das comunidades na construção das opções e decisões para a sua terra precisa de um incentivo positivo.
É recorrente falar-se sobre alheamento, desinteresse ou
passividade face às necessidades que as pessoas e a vivência na pólis reclamam.
Em termos correntes, dir-se-á que a população não quer saber de política! No
entanto, continuam os atropelamentos na cidade, o lixo persiste entremeado com
arbustos, as fezes de animais cujos donos ou donas carecem de educação, as
descargas ilegais de lixo nas barreiras da cidade, o desrespeito pelas regras
de condução e estacionamento [ao ponto de impedirem a passagem de um peão e
muito menos de um carrinho de bebé], o desrespeito pelo património, a ausência
popular nas assembleias municipais ou de freguesia…. Poderia juntar muitos
exemplos!
Acresce, Santarém está a reforçar o “seu” papel de lugar
dormitório de Lisboa com a fuga da capital de gente que não consegue suportar
os preços da habitação. Esse fator convoca a reflexão sobre as consequências de
uma cidade dormitório.
Posto isto, há dois caminhos que se bifurcam em duas linhas
de orientação nas autarquias:
Uma procura aplicar a sua linha política apresento-a como a
melhor, a gestão eficaz, a mais competente, a que melhor serve a comunidade, a
que é – no fundo – a de argumentário mais fácil confortável e fácil para um
autarca fazer. Porquê? Porque essa linha política assenta numa decisão
unicamente de cima para baixo, ainda que seja sustentada por vitória eleitoral.
Essa é a linha seguida no nosso concelho, em particular, pelas presidências da
Câmara Municipal e da Junta de Freguesia da Cidade.
De modo distinto, a linha que procura o exercício da cidadania, ter cidadãos e
cidadãs que pensam pela sua própria cabeça, que fomenta o gosto pela terra onde
se vive, a ação cívica das pessoas em prol da comunidade [consequentemente de
si próprias em ação solidária e construtiva, não de um egoísmo e individualismo
que critica tudo e todos a partir do seu sofá – mas nada faz], pessoas com
espírito crítico que são parte da solução e não parte do problema.
O concelho de Santarém, em particular a freguesia da Cidade
[que conheço muito bem], tem excelentes exemplos de cidadania e de
voluntariado: é o caso das associações culturais e recreativas, clubes
desportivos, comissões de moradores, comissões de festas, grupos de dadores de
sangue (…) compostas por dirigentes que dão o melhor de si para um bem comum.
Essa energia positiva é fundamental para Santarém ter vida própria, precisa de
ser mais apoiada pelos poderes autárquicos.
Cabe perguntar: queremos que a cidadania seja amorfa,
composta de pessoas que se limitam a consumir as decisões dos poderes
autárquicos?
A minha linha de orientação incentiva as pessoas que criam
jardins como o fazem na Rua Dr. António Maria Galhordas ou na Prof. Manuel
Bernardo das Neves, que fazem limpeza de chafarizes e de ruas como fez o
movimento “No coração da cidade – Santarém”, que proteja o meio ambiente ou a
cultura da sua terra como fazem o movimento Movimento Ecologista Vale de Santarém ou a sua
identidade como a Associação Cultural Vale de Santarém – Identidade e Memória,
ou que proteja os animais incluindo os errantes abandonados por seus donos,
entre muitos e tantos outros bons exemplos.
Aqui chegados, há que refletir porquê a Câmara Municipal e a
Junta de Freguesia da Cidade não colocaram em prática os Orçamentos
Participativos aprovados respetivamente em 2021 na Assembleia Municipal e em 2020 na Assembleia de Freguesia da Cidade. É que os O.P.s são ferramentas
provadas que fomentam o gosto, a responsabilidade e o compromisso com a terra
onde se vive.
A nossa terra precisa de incentivos cívicos positivos,
os orçamentos participativos são um exemplo.
Vítor Franco
Esta “coisa” de escrever em tempos de férias… Não dá muito para falar de coisas sérias, se bem que as férias pagas tenham sido uma grande conquista dos trabalhadores.
Na falta de novas grandes viagens em bicicleta, não levais a
mal que “faça render o peixe”, até porque abundaram as lesões e não abundou aquilo
com que se compram os melões… Enfim, acrimónias minhas…
A pedido de várias famílias [conversa para fingir que foi
muita gente] venho partilhar mais algumas experiências do Canal du Midi.
– Que chato! Já estou a ouvir! Bem, direi só umas breves
palavras sobre Toulouse – a linda
cidade rosa que me “ficou no goto” –, onde ganhei amigos franceses também
apaixonados por esta “maluqueira” de pedalar kms e kms e demorar um dia a fazer
o que num carro se faz em uma hora… Vamos à chegada à cidade rosa.
A chegada ao aeroporto da cidade foi fácil [há ligações
lowcost], descobrir a caixa com a minha bicicleta é que não. O translator
lá foi ajudando, “monsieur, mon vélo n'est pas venu?!”. Lá eu ia insistindo com os funcionários que
estavam na entrega das embalagens fora de formato. Ao princípio não me ligaram
muito, então eu lancei o meu truque secreto, fiz voz mais grave, e, francofonamente,
arranhei qualquer coisa a parecer: “eu sou português, venho para Toulouse andar
de bicicleta e agora a bicicleta não aparece, não pode ser”!
Vocês podem não acreditar, mas a afirmação “eu sou
português” é ótima para gerar simpatia, ou então para parecer um “atrapalhado”,
o que é certo é que já me livrei de multas por não validar bilhetes de comboio,
fui perdoado pela polícia por ter entrado em zonas proibidas [aqui tive que
responder ao polícia que indagou porquê eu ter passado as fitas sinalizadoras: “Cristiano
Ronaldo, sem me rir!], outras mais…
Bem, finalmente um funcionário decide ir procurar a minha
caixa de bicicleta, e, por fim, lá apareceu com ela, estava num elevador disse;
ele não sabia explicar porquê e eu quase não o percebia, ficámos empatados.
Talvez se eu tivesse arranhado em occitano ele entendesse;
eu também levava essa cábula linguística, ciclista prevenido é como pneu com
líquido antifuro…
Pronto, passei à fase seguinte, montar a bicicleta: a
montagem foi “supervisionada” por trabalhadores do aeroporto que iam assistindo
divertidos e fumando cigarros. Tirar as proteções, colocar os ferros da tenda
por baixo do quadro, cada bolsa em seu sítio, selim regulado na altura certa,
volante e ângulo dos manípulos dos travões e mudanças, pedais, etc e tais…
No fim de colocar todo o lixo nos devidos recetores pedi
informações aos fumadores de como chegar à cidade… Simples, “via metro de
superfície, barato e bom”, ok, porreiro, chegado ao metro, lá tive de ir pedir nova
ajuda” para tirar o bilhete correto a outro “descendente de Junot”. Com esta
conversa toda e ainda não falei da cidade…
Saí no Palácio de Justiça e
de lá dei a volta pelo centro da cidade rosa, tendo como objetivo o posto de
turismo situado na belíssima torre da Capitólio.
Como é costume começou a chuviscar, S. Pedro adora
receber-me assim. Num café fiquei à conversa com um casal que se interessou pela
bicicleta e Portugal. Chega-se o tempo de me aproximar da casa do casal até
então desconhecido e amigo warmshower...
Ainda deu para espreitar a Cité de l'espace
[visitei esta atração no dia seguinte] e fotografei a réplica [julgo] do
Ariane.
O jovem casal, que me recebeu em sua casa, tinha feito a rota da seda em bicicleta;
claro que a primeira noite foi uma maravilha de receber tão belas vivências e
tão marcadas experiências.
No dia seguinte visitei a cidade. A primeira evidência que
salta à vista é o excelente trabalho de ligação e usufruto popular ao rio Garona e ao canal du Midi. As pessoas usufruem de
margens tratadas e frondosas, há ciclovias, atos culturais, património (…)
vida! Mais uma lição para Santarém, “fui dizendo aos meus botões”.
Não vos maço com mais descrições [sugiro verem as ligações
nas palavras azuis], realço ainda o centro histórico, o Museu
da Resistência e da Deportação, o Convento
dos Jacobins, a Catedral
de Saint-Étienne e a Basílica
de St. Sernin, património mundial.
Fico satisfeito se vos agucei o apetite para visitar a linda
Toulouse. Se a curiosidade vos impeliu a fazer o belo canal du Midi em
bicicleta, ide amigos, ide! Se precisarem de informações para planearem a vossa
viagem cá estarei.
Vítor Franco
Poderá também ler e ouvir:
https://maisribatejo.pt/2021/11/06/abc-de-uma-viagem-em-bicicleta-pelo-canal-du-midi/
Créditos de imagem: em-rede.com |
Os tempos que correm trazem-nos desafios inesperados, que poderiam convocar a nossa reflexão. A comunicação de ideias e mensagens em “pós-verdade” trouxe renovados apelos ao ódio agindo em irresponsabilidade quase total perante o respeito para com pessoas e/ou comunidades. O ser humano transforma-se vulgarmente em carneiro que segue o rebanho e este segue o pastor.
Partilho este olhar:
“A
pós-verdade é a aceitação de uma informação por um indivíduo ou grupo de
indivíduos, que presumem a legitimidade desta informação por razões pessoais,
sejam preferências políticas, crenças religiosas, bagagem cultural, etc.
Assim, a pós-verdade não implica necessariamente em uma mentira (tendo
em vista que a informação não verificada pode ser verdadeira), mas sempre
implica em uma negligência com relação a verdade.”
A recente onda de violência, desencadeada pela extrema-direita
inglesa, contra pessoas imigrantes e refugiada imigrantes, o jovem é simplesmente um inglês. Para os incendiários da violência
basta o jovem ser negro para ser sinónimo de imigrante ou refugiado. Ora se um
jovem é negro, ou refugiado, ou imigrante, o adjetivo de criminoso transmite-se
a toda a comunidade e toda esta está a ser atacada.
Estas situações não são novas no mundo e muito menos em
Portugal. Vejamos a matança de judeus, em Lisboa, na páscoa de 1506. Cito da
Wikipédia: “A historiografia situa
o início da matança no Convento de São Domingos de
Lisboa, no dia 19 de abril de 1506, um domingo,
quando os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste que
grassavam em Portugal, e alguém jurou ter visto no altar o rosto de Cristo
iluminado — fenómeno que, para os católicos presentes, só poderia ser
interpretado como uma mensagem de misericórdia do Messias — um milagre.
Um cristão-novo que também participava da
missa tentou explicar que esse milagre era apenas o reflexo de uma luz, mas foi
calado pela multidão, que o espancou até à morte”. A partir daí todos os
judeus passaram a ser os hereges culpados da peste e mais de 4000 foram
assassinados em apenas três dias por multidões em fúria.
Outro exemplo, bem contemporâneo, acontece entre nós quando
um dirigente político ataca toda a comunidade cigana apelidando todas essas
pessoas de ladrões e afins. O mesmo faz com os imigrantes acusando-os de
viverem à nossa custa [não acusa os banqueiros] – sabendo perfeitamente que
está a mentir –, pois os imigrantes dão lucro ao Estado Português e estão a
contribuir com mais de mil e quinhentos milhões de euros para a segurança
social, ajudando assim a pagar as reformas e os apoios na saúde de todos nós.
A recente polémica acusando a pugilista argelina Imane
Khelif de ser trans e disputar um combate em posição mais favorável à outra
atleta feminina trouxe à opinião pública uma variedade inaudita de disparates.
Dirigentes partidários e de países, deputados [incluindo Rita Matias do Chega],
uma infinidade de gente que se tornou instantaneamente especialista em ADN,
cromossomas X e Y, elegibilidade de género, testosterona, regras internacionais
de boxe, (…), usaram a imprensa e as redes sociais para afirmar a sua ira contra
uma mulher trans, afirmando ser um atentado contra as mulheres e a propagação
da ideologia de género” até nas olimpíadas. Tal ira, nos e nas emissoras de
opinião, tem três coisas em comum: i) pertencem ao lado extremista da
direita, ii) nada fazem contra a violência doméstica que todos os anos
vitimam dezenas de mulheres em Portugal e muitas milhares no mundo e iii)
acusam uma pretensa “ideologia de género” para carrear ódio contra a
diversidade humana, os direitos das próprias mulheres e a nossa própria
democracia.
Por fim, sem qualquer assomo de petulância, será positivo
que pensemos pela nossa própria cabeça, que construamos a nossa opinião
fundamentando-a, que debatamos em respeito e em solidariedade – sem ódios! A
pós-verdade, transformada em mentira, só cria ódio e transforma pessoas em
carneiros!
Vítor Franco
A galdéria vai para casa. O problema é que fez uma birra, quis ir num saco almofadado. A menina é exigente, uff, não é fácil aturá-la... Bem...