segunda-feira, 21 de março de 2022

quarta-feira, 16 de março de 2022

Histórias com GENTE dentro

Saída de Narbonne

Há dias que nunca se esquecerão! Esses dias representam o futuro da humanidade. Perceberão no fim do texto.

A chegada ao Porto de Narbonne tinha sido um bálsamo, tinha batalhado duro contra o vento para visitar à abadia de Fontfroide, o "camping" estar fechado foi uma sorte. Encontrei dormida num pequeno hotel no centro da cidade. Tomei banho, comi o que restava, segui para visitar o centro histórico. Eis que começa uma carga de água que deve ter durado toda a noite. Devo ter dormido umas 10h... Quando acordava era com o barulho da chuva forte. Às 9h da manhã ainda chovia. Preparei o poncho, deixo abrandar e mesmo sem comer meto-me pelo canal de Robine para voltar ao Midi.

Lama + lama, chuva + chuva... A dado momento uma vedação e um sinal de obras corta o caminho, volto para trás... Apanho uma saída para uma estrada e sigo em direção à Cuxac-d'Aude na esperança de lá encontrar um café ou supermercado onde comprar comida.

Ledo engano... Volteei por ruas e ruelas, perguntei e perguntei, a resposta era sempre a mesma "é difícil"...

Pensei seguir para Capestang e assim evitar entrar na lama, pergunto a uma senhora por um café e a resposta foi: "venha comer a minha casa"! Pensei que tinha percebido mal e agradeço mas só queria uma indicação de algum estabelecimento mais próximo. A senhora insiste: "moro aqui, vou abrir a garagem para a bicicleta não ficar à chuva" e foi logo abrir a garagem...

Aceitei a graça concedida. Descalço as sapatilhas cheias de lama e as meias vão deixando o rasto molhado. Manda-me sentar a mesa, apresenta a filha e o gato e traz meia pizza... Eu que não posso comer glúten, devorei a pizza… Depois bebi duas canecas de café. Ofereceu fruta e iogurte, agradeci, mas já estava bem. A conversa desenvolve-se bem com a filha, veterinária, e ela. Falámos de viagens em bicicleta e em moto, de associativismo social, em francês e em espanhol, como dava... Tirámos uma foto para mostrar ao marido e ofereci préstimos em Portugal.

Antes de sair "exigiu” que eu trouxesse 4 bolos da kinder, aceito e volto a agradecer.

Nem 10 km passados já os bolos começavam a estimular o palato :) . Em Capestang retorno ao Canal du Midi e volto à lama. A partir de Colomniers surge uma belíssima Ecovia.


Pelo caminho há encontros: um velho que morava no próprio barco quis saber o que andava a fazer e contou-me histórias de imigrante na América do Sul, um jovem meteu também diálogo na curiosidade de um velho português por ali, uma ciclista alemã pede informações: estava a fazer o Midi em sentido inverso; mais uma hora de conselhos e conversa...

Tenti passar pelo Túnel de Lamas mas as barras de ferro impediam-no...

São já 17h quando chego às lindas e famosas 9 Écluses deFonseranes.

Um grupo de franceses mete conversa... Falámos da viagem, do que conheciam em Portugal, de ser reformado :) ...

Quando digo que penso chegar a Séte desaconselham, ainda faltavam uns 50 kms... Uma senhora puxa do telemóvel e começa a procurar alojamentos... Falo em hostel... Devem ter pensado que eu não tinha dinheiro, pois começaram a dizer-me que davam se fosse preciso... Devia estar mesmo com cara de "portuga" abandonado!

Agradeço, volto a agradecer, tiro duas fotos ao canal e sigo para Béziers...


Procuro o Ibis e cá estou...

Há dias que não esquecerei. Acima de tudo valem para mostrar a todos nós que a esperança na humanidade deve estar no centro da nossa vida.

O mundo não é a perceção de violência e desconfiança que as TVs transmitem, apesar da invasão da Ucrânia. Os povos podem gerar solidariedade com imigrantes ou pobres ou, simplesmente, entre todos nós.

A comunidade pode ser isso mesmo. Marx e Engels também lutaram pelo crescimento da "Liga dos Justos"... Liga dos Justos! Sim, justiça! Sim solidariedade! Sim paz! 

Hoje [4 de outubro de 2021] choveu torrencialmente, mas o sol brilhou e até se pôs em tons vermelhos!

Quando pessoas que nunca te viram, te acolhem dois dias em sua casa, te levam a passear à linda aldeia  medieval de Minerve e às gargantas do rio Cesse

Texto editado a partir do texto original.
Vítor Franco

sexta-feira, 11 de março de 2022

O que são valores ocidentais?

Direitos de autor  AP Photo/Rodrigo Abd

A criminosa invasão da Ucrânia trouxe consigo o reforço de narrativas dúbias usadas para a manipulação da mensagem ou tão só por inabilidade do emissor da mensagem.

Os ditos valores ocidentais tornaram-se um “chapéu” que serve para discriminar religiosamente ou etnicamente como para defender direitos humanos. Nesse “chapéu” tanto cabe o extremista racista como o bem-intencionado humanista.

Podemos encarar como lugar comum que os valores ocidentais são os da fraternidade, da solidariedade, da defesa dos direitos individuais e coletivos das pessoas – de todas as pessoas – e o respeito pela vontade e independência dos povos! Esse lugar comum é um bom ponto de partida para olhar a invasão da Ucrânia mas também para nos olharmos a nós próprios.

Vejamos dois aspetos diferentes: a política internacional e o individualismo como ideologia.

No lugar comum a partir do qual observamos a Ucrânia podemos partir para refletir o que foi a “intervenção militar Ocidental” nos Balcãs, no Iraque ou na Síria. Que responsabilidades foram imputadas a Durão Barroso e outros que afirmaram ter visto documentação – que afinal não existia – para justificar uma invasão, uma mortandade, uma catástrofe no Iraque? Onde esteve o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e a ONU?

Desse lugar comum podemos olhar a ocupação da Palestina por Israel, o roubo de terras e casas, a opressão e agressão militar continuada, o cerco da Faixa de Gaza…

Desse lugar comum olhamos a indiferença ocidental generalizada perante a morte de milhares de refugiados africanos e árabes no Mediterrâneo, que também fogem das guerras e da fome nos seus países. Olhamos como os escorraçam (…) enquanto multinacionais e governos ocidentais apoiam ditadores locais e rapinam matérias primas e preciosas!

Onde está a civilização ocidental?

Onde está quando se deixa morrer, só e ao frio, um idoso caído na rua? Quando centenas ou milhares de pessoas passaram indiferentes à hipotermia que galgava sobre René Robert, fotógrafo, de 84 anos, morrendo ao fim de nove horas sem receber ajuda.

Olhai-vos amigas e amigos. Olhai-vos quando vos sensibilizais [e bem] com os refugiados brancos mas ignorais os negros. Olhai-vos quando vos sensibilizais com os que sofrem na Ucrânia [e bem] e ficais indiferentes aos que vivem ao vosso lado.

Olhai a sociedade que vivemos, os valores de competição a sobreporem-se aos valores da cooperação, os valores do individualismo [ideologicamente também liberais] a sobreporem-se à solidariedade, “eu que me safe, os outros que se lixem”! Olhemo-nos, quando caímos na tentação de ostracizar o mais fraco e de odiá-lo porque é diferente, porque é gay ou lésbica, porque é pobre ou gordo, porque é negro ou cigano…

Olhai-vos, olhemo-nos, quando a morte galga sobre um idoso caído na rua… E nós indiferentes!

O que é a civilização ocidental?

Vítor Franco

Crónica de uma corrida

A caminhada ou a corrida na natureza propiciam momentos prazerosos e úteis à saúde física e psíquica. O trail, palavra inglesa que se normal...