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sábado, 22 de abril de 2023

Em Abrantes, pescadores do rio pagam por pescar em água salgada.

 

Imagem de autor desconhecido


É o imposto do pescado. O fisco atua sobre os pescadores. “vinte homens, extremamente miseráveis, que pescavam no rio – onde não podiam chegar marés vivas – e alguns mesmos não pescavam, foram obrigados a pagarem o imposto do pescado…”.

É assim o fisco, o fisco confisca os pobres! O “fisco (…) tem um meio mais singelo e mais expedito: é aproximar-se de qualquer e dizer-lhe pondo uma carabina ao peito:

– Passe para cá o que leva na algibeira”.

O castigo veio pela lei de 10 de julho de 1843 e mereceu o repúdio de Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz que lançaram As Farpas (1) aos regimes de então. Este episódio com os pescadores de Abrantes reporta a esse período.

Eça escreveu assim: “Estes dois processos, o do fisco e o dos senhores ladrões, têm tal similitude, que pedimos ao governo – que distinga por qualquer sinal estas duas profissões! Para que não suceda que os cidadãos se equivoquem e que vão às vezes lançar a perturbação na ordem social…”.

Na monarquia, como na República, a lei determina aquilo que são as relações de força dentro do país. Quem é mais forte tem leis mais favoráveis, essa relação de forças exprime-se nas relações entre as pessoas e as classes na sociedade e tem consequência no parlamento e no governo.

Escreve o Jornal Expresso: “O facto de a variação nominal da receita fiscal (14,9%) ter sido superior à do PIB (11,4%), alavancou a carga fiscal – que se define pelos impostos e contribuições sociais efetivas (excluindo-se, portanto, as contribuições sociais imputadas, isto é, as que são suportadas pelos empregadores)…”. Ou seja, se entendo, os trabalhadores e o consumo pagaram o crescimento dos impostos!

Enquanto vastas camadas da população reivindica aumentos salariais a governos que fingem ouvidos moucos os milionários voltam a reclamar queremos pagar impostos! O grupo os milionários patriotas não desiste e criou um sítio na net. A mensagem é clara: “os extremos, tanto de pobreza, como de riqueza, estão a colocar a democracia em risco, por serem insustentáveis, muitas vezes perigosos e raramente tolerados durante muito tempo”.

Os “camaradas” milionários estão na “linha justa”! Vale a pena pensar nos seus argumentos, ou não? Vale a pena pensar na desigualdade, no que a todos deveria obrigar para um Estado Social, Justo, Democrático – incluindo a sua participação económica.

Olhai a França…

A população francesa está a mostrar a importância da democracia, da cidadania e da participação cívica nos destinos de um país.

Vítor Franco

 

(1) Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, “As Farpas, Crónica mensal da política, das letras e dos costumes”, organização de Maria Filomena Mónica, Cascais, Publicações Principia, 2004, pp. 277 – 278.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

De bicicleta pelas aldeias avieiras


Porto na aldeia da Palhota, foto [e bicicleta] de Vítor Franco
Um passeio de bicicleta pode ter o privilégio de ser uma comunhão de desporto, cultura e contato com a natureza. Há um pequeno percurso que assim o é: ligar a aldeia de Caneiras ao Porto da Palha.
Percurso plano, fácil, ao longo do dique que protege povoações e terras das cheias que já quase desapareceram, perscrutarmos a fertilidade da terra e a infertilidade do rio Maior / Vala Real de um lado e do outro o Rio Tejo.
O percurso é hoje comum ao Caminho de Santiago pelo que oportunidades para uma boa conversa não faltam.
Crédito de foto: Associação de Amigos das Caneiras
Caneiras e Porto da Palha são algumas das aldeias avieiras da região e é sempre um prazer visitá-las e trocar uns dedos de conversa com as pessoas mais idosas.

Foto de Caneiras, crédito no site Associação de Amigos das Caneiras

Porto da Palha, Foto [e bicicleta] de Vítor Franco
As aldeias têm origem na migração dos pescadores da Vieira de Leiria que procuraram no Tejo o sustento que o mar bravio da costa Oeste lhes negava no inverno. Aqui chegavam contornando a costa de barco e subindo o rio ou transportando este em carroças. Aqui chegavam com “um pouco de quase nada”, convocados pelo sustento de um rio que lhes mataria a fome… Vivenciando no barco todas as necessidades humanas, o povo avieiro foi um exemplo de um querer humano ímpar…

Créditos de Foto: Maria de Lurdes Farinha, peça de teatro "Gente do nosso pano" de José Gaspar
Os parcos meios financeiros que foram conseguindo permitiram-lhes fixarem-se, em inícios do século XIX, na borda-rio em casas palafíticas e aldeias de forte carga identitária.
Neles se inspirou um grande escritor português: Alves Redol. Médico de formação, escritor de paixão, cedo partilhou as vivências de um povo pobre numa região a que foi dado o nome de Ribatejo. Entre lezírias inundáveis, um bairro mais “industrializado” e uma charneca de grandes propriedades o Ribatejo foi inspiração multifacetada para um escritor expoente do neo-realismo.


Capa de livro, editora Bertrand
Imbricado com a vida do povo, vivendo com ele como o fez na aldeia da Palhota para escrever Avieiros, Alves redol sofreu a repressão e a prisão fascista mas deixou-nos imensas estórias que fazem uma história maravilhosa dos povos, culturas e vivências do Ribatejo. Estas culturas plurais, que tornam o mito “toureiro / campino / forcado” uma minudência, podem ser recordados em viagens de bicicleta.
Aqui, o objetivo é convocar a vossa curiosidade para o passado e o presente. Documentários, fotos e links para sites ajudar-te-ão a um olhar de prazer e admiração.
Clique em ler mais e "delicie-se".
Vítor Franco



Crónica de uma corrida

A caminhada ou a corrida na natureza propiciam momentos prazerosos e úteis à saúde física e psíquica. O trail, palavra inglesa que se normal...