quinta-feira, 29 de junho de 2023

Alexandre Magno, o Grande...

Nicolas Andre Monsiau - Alexander and Diogenes 1818.

Consta-se que Alexandre Magno, o Grande, um dia foi visitar o filósofo Diógenes, o Cínico, que vivia no seu barril. Chegado ao barril, o poderoso Alexandre perguntou a Diógenes se havia alguma coisa que pudesse fazer por ele. Ao que este respondeu: “Sim, vá um pouco para o lado, está-me a tapar o sol”. A resposta é verdadeiramente surpreendente, até porque Diógenes era despojado de posses e estava respondendo a um imperador de vitórias contínuas em suas batalhas.

Este episódio, profusamente relatado e conhecido, veio-me à memória quando vi as notícias sobre a inauguração do monumento às vítimas da tragédia de 2017 em Pedrogão Grande que matou mais de sessenta pessoas e deixou prejuízos avassaladores na natureza e na vida das comunidades.

Em 2017 António Costa decretou três dias de luto nacional, visitou a região, e disse no debate do Estado da Nação na Assembleia da República, conforme cito do jornal Económico:

Em resposta à tragédia, Costa diz que as “tarefas imediatas” consistem em “reconstruir o que foi destruído” e também “esclarecer cabalmente o que aconteceu e apurar responsabilidades.” … Além das “tarefas imediatas”, Costa referiu-se ao “desafio estrutural” de “revitalizar o interior e reordenar a floresta” de Portugal. Em relação a esse desafio apelou ao “esforço conjunto para consensualizar esta reforma estrutural.” E advertiu: “Não podemos continuar a lamentar que o grande problema é o abandono das florestas e não aprovar os instrumentos de mobilização das terras ao abandono.”

Depois das várias “tragédias continuamos a ser o país do mundo com maior área de eucaliptal e o país que mais arde no Mediterrâneo” conforme explicou João Camargo, investigador em alterações climáticas, no jornal Expresso. Os desastres sucedem-se, mais de cem pessoas morreram carbonizadas…

Revitalizou-se o interior? Continua a perder população! Reordenou-se a floresta? A área de eucalipto cresce! Bolsa Nacional de Terras? A última notícia é de abril de 2018 e regista umas insignificantes 774 parcelas!

Há um ano escrevi sobre o tema aqui no jornal Mais Ribatejo, recomendo vivamente a leitura. De então para cá parece que o facto mais revelante que aconteceu foi a inauguração do monumento aos mortos na tragédia; mas nem a inauguração escapou à incompetência e autofagia dos “casos e casinhos” governativos.

As populações do interior já estão quase como Diógenes a pedir esmola a uma estátua. À indagação da sua conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém."

No artigo citado relatei 9 factos que comprovam a incompetência no tão proclamado apoio ao interior do país. Nele descrevi também como é possível e é preciso “plantar água”. O biólogo Ricardo Leitão prova como se faz com sucesso. [Leia aqui o exemplo dos Sistemas Agroflorestais de Sucessão]. Em consequência: há conhecimento científico, há comprovadamente soluções para sair do fosso em que este modelo destruidor da natureza e do interior do país nos está a colocar.

O conhecimento, a cidadania, os movimentos ambientalistas já nos “mostraram o sol”. Porque é que se continua a fracassar?! Vale a pena pensar e perguntar…

Dos bombeiros às populações e aos movimentos cívicos, a minha solidariedade e esperança para todas as pessoas que não desistem!

Vítor Franco
29/06/2023

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