Nicolas Andre Monsiau - Alexander and Diogenes 1818. |
Consta-se que Alexandre Magno, o Grande, um dia foi visitar o filósofo Diógenes, o Cínico, que vivia no seu barril. Chegado ao barril, o poderoso Alexandre perguntou a Diógenes se havia alguma coisa que pudesse fazer por ele. Ao que este respondeu: “Sim, vá um pouco para o lado, está-me a tapar o sol”. A resposta é verdadeiramente surpreendente, até porque Diógenes era despojado de posses e estava respondendo a um imperador de vitórias contínuas em suas batalhas.
Este episódio, profusamente relatado e conhecido, veio-me à
memória quando vi as notícias sobre a inauguração do monumento às vítimas da tragédia
de 2017 em Pedrogão Grande que matou mais de sessenta pessoas e deixou
prejuízos avassaladores na natureza e na vida das comunidades.
Em 2017 António Costa decretou três dias de luto nacional,
visitou a região, e disse no debate do Estado da Nação na Assembleia da
República, conforme cito do jornal
Económico:
Em resposta à tragédia, Costa diz que as “tarefas imediatas” consistem
em “reconstruir o que foi destruído” e também “esclarecer cabalmente o que
aconteceu e apurar responsabilidades.” …
Além das “tarefas imediatas”, Costa referiu-se ao “desafio estrutural” de
“revitalizar o interior e reordenar a floresta” de Portugal. Em relação a esse
desafio apelou ao “esforço conjunto para consensualizar esta reforma
estrutural.” E advertiu: “Não podemos continuar a lamentar que o grande
problema é o abandono das florestas e não aprovar os instrumentos de mobilização
das terras ao abandono.”
Depois das várias “tragédias
continuamos a ser o país do mundo com maior área de eucaliptal e o país que
mais arde no Mediterrâneo” conforme explicou João Camargo, investigador em
alterações climáticas, no jornal
Expresso. Os desastres sucedem-se, mais de cem pessoas morreram
carbonizadas…
Revitalizou-se o interior? Continua a perder população! Reordenou-se
a floresta? A área de eucalipto cresce! Bolsa Nacional de Terras? A última
notícia é de abril de 2018 e regista umas insignificantes 774 parcelas!
Há um ano escrevi sobre o tema aqui
no jornal Mais Ribatejo, recomendo vivamente a leitura. De então para cá
parece que o facto mais revelante que aconteceu foi a inauguração do monumento
aos mortos na tragédia; mas nem a inauguração escapou à incompetência e autofagia
dos “casos e casinhos” governativos.
As populações do interior já estão quase como Diógenes a
pedir esmola a uma estátua. À indagação da sua conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega
e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem
depender de alguém."
No artigo
citado relatei 9 factos que comprovam a incompetência no tão proclamado
apoio ao interior do país. Nele descrevi também como é possível e é
preciso “plantar água”. O biólogo Ricardo Leitão prova como se faz com sucesso.
[Leia aqui o exemplo dos Sistemas Agroflorestais de Sucessão]. Em
consequência: há conhecimento científico, há comprovadamente soluções para sair
do fosso em que este modelo destruidor da natureza e do interior do país nos está
a colocar.
O conhecimento, a cidadania, os movimentos ambientalistas já
nos “mostraram o sol”. Porque é que se continua a fracassar?! Vale a pena
pensar e perguntar…
Dos bombeiros às populações e aos movimentos cívicos, a
minha solidariedade e esperança para todas as pessoas que não desistem!