11 de setembro, de más memórias! (Texto e podcast)

New York City Ground Zero. Foto Depositphotos

Quando o calendário marca o dia a nossa memória recua no baú do tempo e traz-nos as brutais e impactantes imagens dos ataques terroristas nos EUA em 2001. As terríveis imagens dos aviões a embater contra as torres gémeas provocaram uma comoção global, 3 mil mortos e centenas de feridos.

Este ataque talvez marque uma viragem nos ataques terroristas: eles passaram a ser planeados com muita antecedência, ação de surpresa, envolvendo meios humanos especializados, equipamentos e conhecimentos avançados, ataque simbólicos / de mensagem forte e mediatização global do horror provocado.

O mundo interrogou-se como foi possível um ataque desta dimensão, astúcia e “eficácia”, ao centro do centro do império global. Uma “nova” narrativa surgiu desse ataque: a luta entre os bons e os maus, a luta entre civilizações e entre religiões. O racismo e o militarismo substituiram a razão.

O ataque terrorista às torres gémeas foi feito precisamente pelas correntes fundamentalistas e religiosas que se agruparam na Al-Qaeda e que os próprios EUA tinham apoiado financeiramente para treino e armas, para estas se oporem ao exército russo que ocupava o Afeganistão.

Em dezembro de 2001 as Nações Unidas aprovam a criação da Força Internacional de Apoio à Segurança, liderada pelos EUA e pela NATO. O império, ferido, tinha de se “vingar” – o seu poder não podia ser posto em causa. O presidente George W. Bush decide iniciar o seu ataque, denominado "Liberdade Duradoura"” em 7 de outubro de 2001. Coincidência, ou talvez não, o ataque terrorista do Hamas também foi a um 7 de outubro.

A invasão do Iraque

A teoria de combate militar ao “eixo do mal” / “guerra ao terror” leva os EUA a atacarem o Iraque em 2003. Portugal fica tristemente marcado pela cimeira das Lajes, 16 de março, com Durão Barroso, George Bush, Tony Blair e José Maria Aznar, que sinalizou o início da invasão sob o argumento – provado como falso – que o ditador Saddam Hussein estava a produzir armas químicas de destruição em massa. A guerra que chegou a ter mais de 150 mil soldados da força internacional teve como consequência mais de 600 mil iraquianos mortos, milhares de refugiados, um país destruído, o crescimento do ódio fundamentalista e extremista de vários grupos – incluindo da própria Al-Qaeda. Todos os objetivos falharam. O sofrimento do povo aumentou!

Afeganistão, mais uma prova do fracasso da guerra!

Teoricamente a “comunidade internacional” esforçou-se por apoiar os governos pró-ocidentais de Cabul. A Conferência de Doadores de Tóquio para a Reconstrução do Afeganistão, janeiro de 2002, concede 4,5 bilhões de dólares a um fundo gerido pelo Banco Mundial. Eram objetivos: a modernização técnica, infraestrutural e de serviços públicos. Desconheço o resultado dessa avultada aplicação de dinheiro. O que é certo é que a oposição extremista voltou a crescer e estabelece-se uma ofensiva talibã, em 2021, em que o poder cai como um baralho de cartas. Os soldados governamentais passavam-se para os adversários e a sua entrada em Cabul foi como faca em manteiga no verão. Tudo falhou!

Mais uma vez: a teoria da guerra como solução para o combate ao extremismo falhou.

Mais uma vez se prova que ideias não se combatem com armas, que o populismo extremista ocidental não só não combate o extremismo fundamentalista, terrorista e religioso, como o faz crescer exponencialmente. Mais ainda, é no próprio ocidente que faz crescer movimentos fundamentalistas, extremistas, ódios, racistas e até neonazis e fascistas.

Nota final

Foi também num 11 de setembro, em 1973, no Chile, que foi desencadeado um golpe militar que destruiu a democracia, um governo e o presidente, Salvador Allende eleitos pelo povo, instaurando uma sanguinária ditadura chefiada pelo general Augusto Pinochet.

Também aqui esteve o apoio militar e financeiro do governo dos Estados Unidos e da CIA, bem como de organizações terroristas chilenas, nacionalistas-neofascistas, como a Patria y Libertad.

… “São coisas do Mundo/ Retalhos da Vida/ São coisas de qualquer lugar/ Mas se eu fico mudo/ Esse mundo imundo/ É capaz de me tentar mudar”. In “Retalhos”, de Alcione [1976].

Vítor Franco

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