quinta-feira, 22 de julho de 2021

Boas surpresas de bicicleta, ou, Santarém tem tanto a aprender!

 

Foto Elisabete Silva, Volta ao Ciclismo 

Na aproximação a Faro paro a um sinal vermelho, sim, porque as regras de trânsito também se aplicam aos ciclistas. Ao meu lado para um ciclista a sério (…) nota-se logo: magrinho, ombros de nadador, equipamento e bicicleta a sério…

Olho o sinal e vejo as horas, se chegasse rápido à estação de comboios talvez conseguisse apanhar ainda o intercidades para cima… Pergunto ao ciclista do Futebol Clube de Porto se sabe o caminho mais rápido para a CP, diz que sim e que me leva lá, pede-me para eu ficar na roda dele e lá vou eu em fila indiana tipo Volta a Portugal em Bicicleta…

Perdi o comboio por uns minutos, fico a falar com o ciclista, a cara não me era desconhecida, agradeço a boleia e ficamos à conversa. Obrigado Daniel Mestre, não é todos os dias que sou rebocado em “fuga ao pelotão” dos minutos por um atleta de topo do ciclismo nacional…

A conversa com o Daniel foi muito interessante. Nela percebi muito melhor a importância do trabalho de equipa no ciclismo e como é um trabalho mesmo difícil…

Gostei daquele tempo à conversa e de perceber como esta compreensão da equipa se aplica a tudo na vida – até no ciclismo!

Podia-se aplicar na política autárquica, toda ela centrada na figura de uma só pessoa: o presidente. Um bom presidente só o pode ser se tiver equipa e se souber líder dessa equipa. Um líder não é um patrão. Um líder deve trabalhar cooperando, fomentar o gosto pela terra, o dinamismo da comunidade, não só dos da sua equipa como também dos adversários – é por isso que no ciclismo a formação mais comum é o pelotão: é a formação onde todos ganham.

Todos vós conheceis como muitas espécies de aves voam em “pelotão”, como muitos cardumes agem em “pelotão” para se defenderem dos predadores, como muitos animais atravessam rios para se defenderem de crocodilos…

O líder de um município ou junta de freguesia pode encarar a oposição como um predador ou como um crocodilo, poder pode, porém, sofre de visão; quem não percebe que o predador é o atraso económico e o mal-estar da população.

Quando uma ou um líder reage em negação a qualquer proposta que tenha a palavra Esquerda não está a agir como líder político, mas como líder de alcateia em exasperação. Quando ideias positivas e soluções necessárias para que a terra seja de tod@s são rejeitadas – porque na assinatura tem a palavra Esquerda – é um líder fraco. Quando as ideias positivas são aprovadas nos fóruns democráticos e competentes, e o líder se recusa a aplicá-las é um líder ditador.

Um líder deve ser a personalização da construção democrática e não a do autoritarismo. Um líder pode parecer simpático e pagar grades de minis em festas – mas o desafio é fazer da democracia uma festa que se quer vivida por tod@s!

Vítor Franco

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Tomar a Bastilha

Por Jean-Pierre Houël - Bibliothèque nationale de France, Domínio público

A Tomada da Bastilha comemorou-se neste 14 de julho. Momento marcante na Revolução Francesa a revolta popular parisiense libertou os presos políticos da fortaleza.

A sublevação das gentes de baixo inspirou gerações de revolucionários em todo o mundo e marcou indelevelmente os diretos humanos colocando, no centro da política, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão assinada por Portugal e publicada em Diário da República.

A Declaração de 1789 dizia no seu artigo primeiro: “Os Homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum”; a Declaração atual, adotada pela Organização das Nações Unidas em 1948 diz:

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

Este princípio, com 232 anos, herdado da sublevação revolucionária está hoje sob ataque dos extremismos e conquistando apoios nos ódios da frustração ao regime capitalista realmente existente.

Hoje, em Portugal como no Mundo, crescem ódios que fomentam conflitos entre os de baixo para assim se proteger o poder dos de cima. Na Hungria, na Rússia, em vários países de extremismo religioso mascarado de muçulmano (…) perseguem-se as pessoas LGBT. Noutros, como na China, perseguem-se sindicalistas, jornalistas e democratas. Nos EUA discriminam-se negros numa loucura racista que teve o êxtase na presidência de Trump. No Brasil, o ódio à esquerda, lançado por corruptos em nome de um combate à corrupção, deu na presidência Bolsonaro e uma catástrofe gigantesca na saúde pública.

A tática é sempre a mesma: atacar e isolar os mais fracos ou os diferentes; a forma é sempre a mesma: sinalizar odiosa e insistentemente ciganos, negros, sindicalistas, pessoas LGBT (…); a meta é sempre a mesma: tornar exponencialmente visível as migalhas que caem da mesa do banquete dos poderosos para esconder o próprio banquete.

Cada vez que um mafioso das elites financeiras está a contas com a justiça, por nos roubar a todos, é renovada insistentemente a ladainha do RSI e das etnias! Tanta vez a mensagem é emitida que as pessoas acabam a acreditar numa perceção que não corresponde à realidade, como se uma árvore fosse a floresta. Tudo isto com a complacência de alguns órgãos de comunicação social que adoram sempre mais um bocadinho de notícias picantes e de sangue!

“…agir uns para com os outros em espírito de fraternidade” é hoje um princípio revolucionário e aparentemente utópico no desvario do ego individual e da competitividade.
Vale a pena provocar-vos e chamar Léo Ferré à nossa conversa. Ele que também faleceu a um 14 de julho. Ele, que adoraria ter estado na conquista da Bastilha, ele, o poeta e cantor insubmisso que um dia cantou ao rio Sena e de lá roubo um pouco:

“Você não se importa se vivemos ou morremos
Você é mais burro do que uma ampulheta!
É normal, você é um personagem,
Seu lugar é feito sob o grande sol
Homens e você é tudo igual
Não há misericórdia que flutua
Você está enlameado em suas profundezas!”

É isso, que lhe pergunto: quer ficar enlameado nas profundezas ou quer tomar a conquista da Bastilha?

Vítor Franco

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Não podemos ignorar!




“Vemos, ouvimos e lemos

Relatórios da fome

O caminho da injustiça

A linguagem do terror”

Esta quadra, do poema “Cantata da Paz”, de Sophia de Mello Breyner, muito bem cantado por José Mário Branco, expressa bem a mensagem que quero partilhar convosco.

Recordei-me deste poema quando li a notícia do assassinato do jovem galego Samuel Luiz, de 24 anos. O Samuel foi morto na madrugada da última sexta-feira, “após espancamento brutal de um grupo de pessoas que gritava ‘bicha’, confirmado por testemunhas diretas do atentado”, relata o jornal espanhol Público.

Segundo o jornal Voz da Galicia os agressores, depois de uma primeira agressão, interrompida por outros jovens, proferiram insultos homofóbicos e “perseguiram a vítima para concretizarem uma segunda e mortífera agressão”.

Em Portugal, em 2019, o Observatório da Discriminação Contra Pessoas LGBTI recebeu 171 queixas de crimes de ódio contra pessoas LGBTQ+. “Ainda são frequentes os relatos de crimes violentos e homicídios motivados por LGBTQfobia e hoje grande parte das pessoas tem pelo menos um amigo ou amiga que já foi vítima dessa discriminação.”

Esta corrente de ódio, que está a ser expandida na Europa pela extrema-direita, tem no governo húngaro o ponta de lança institucional. A perseguição às pessoas LGBT que o governo e vários municípios húngaros desencadearam levou à reação generalizada das pessoas que defendem todas as pessoas. “Não há neutralidade na defesa dos direitos fundamentais”, como diz Fabíola Cardoso.

O presidente do Conselho Europeu tomou posição. Charles Michel condenou a homofobia e defendeu a defesa dos valores da União Europeia (UE). A presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, apelidou a lei húngara mascarada de “promoção da homossexualidade em menores de 18 anos” como “uma vergonha”. O parlamento europeu aprovou também uma moção contra as homofóbicas leis húngaras e quase só a extrema direita apoiou o governo húngaro. Por proposta do Bloco de Esquerda, o parlamento português também se colocou ao lado dos direitos humanos.

Assim, apresentei nesta Assembleia Municipal do dia 30 de junho, uma recomendação à Câmara Municipal para reforçar o já existente Plano Municipal de Combate à Discriminação em razão da Orientação Sexual, não só porque finda em dezembro mas também tem verbas irrisórias.

A recomendação reafirmava também:

“No nosso município de Santarém respeitamos a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição da República, assim:

a) Rejeitamos zonas de exclusão de pessoas e repudiamos a perseguição a pessoas LGBT;

b) No respeito democrático, reforçamos a mensagem de que o nosso município é uma Zona de Liberdade LGBT e de todas as pessoas, sem discriminações.”

A maioria conservadora do “parlamento municipal” votou contra; só 9 deputados se juntaram a mim e tiveram a coragem de votar a favor da recomendação “Respeitar os direitos humanos, rejeitar a perseguição a pessoas LGBT"!

Pelos vistos, respeitar a Constituição e respeitar Direitos Humanos são coisas difíceis de assumir em Santarém!

Agora, cada pessoa tire as conclusões que entender.

Vítor Franco

Pereiro, onde as casas morrem com as pessoas!

O bairro do Pereiro foi o da minha criação, assim diria a minha mãe. A senhora Alice tinha uma mercearia no Largo dos Capuchos, mais conheci...