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sábado, 22 de julho de 2017

O glúten e as surpresas picantes :)

Sendo intolerante ao glúten, a minha viagem de bicicleta para Santiago de Compostela colocava-me algum receio. Com o tempo foi-se esvanecendo. As surpresas agradáveis surgiram a pouco e pouco.


Logo no Hostel, onde fiquei a primeira noite em Burgos, preparam-me um jantar de vegetais cozidos e salada, dois pratos cheios de coisas boas e fortificantes. Quem pensa que comer vegetariano é passar fome está bem enganado, aquele foi um bom exemplo.
Foi em Hornillos del Camino que comecei a conhecer as belas sopas do norte do país irmão. Uma sopa que levava feijão, grão, batata, tipo guisado, saborosíssima. Não só saborosa mas também com excelentes capacidades de reposição de hidratos de carbono e energia.
O prazer foi maior porque fui atendido de forma bastante simpática por uma linda mulher que me fazia tirar os olhos do prato para mandar uns mirones. É claro que a minha beleza também produzia os seus efeitos, pois, nas moscas 😉 Bem, passada esta “boca machista” volto à gastronomia. O preço do almoço não chegou a 7 euros.

Astorga foi uma excelente surpresa em todos os aspectos, ou quase. Tinha ajudado dois ciclistas galegos, com fitas Aptonia e pomada analgésica; ao chegar a Astorga ofereceram-me almoço mas na pizaria onde queriam ir não havia sem glúten. Quiseram levar-me a outro lado mas disse-lhes que não. Encontro “La cocina de la Abuela”, isto deve ser bem penso. Não me enganei. Ainda antes de escolher meto conversa com um casal de namorados. Não queria empatar a “marmelada” mas é sempre bom perguntar conselhos aos locais. Dito e feito, comi o que eles escolheram, um excelente prato de enchidos e uma daquelas sopas que ficamos com força para subir paredes, esta era uma espécie de tripas à moda do Porto.






Ou quase porquê. Sem pó para hidratar espero mais de duas horas sentado à porta de uma loja de bicicletas: Não queria arriscar pedalar sem estar prevenido,o calor era muito e esperava-me ainda uns bons kms. Abriu às 17.30h, grande sexta dormiu o homem!!!
Pergunto-lhe… Não tinha. Mandou-me para uma ervanária que afinal até à hora de almoço estava aberta. São as surpresas que fazem a graça da viagem, lol. Compro 4 tubos de isostar e sigo viagem.
Outra refeição digna de nota foi num hostel em Rabanal del Camiño. Um excelente, fausto e variado pequeno almoço composto de cereais sem glúten, frutas, pão sem glúten, doces variados, leite, café, queijo caseiro, enchidos, iogurte… Tratei-me bem...


Uff foi difícil comer aquilo tudo, mas como tinha muitos kms pelo caminho lá fiz o esforço 😊

Outra excelente surpresa foi em Portomarín onde passa o “nosso” rio Miño. Cheguei cerca das 14horas, o calor era muito e já tinha uns bons Kms nas pernas. Subo à pequena cidade, vou pela rua central onde se fixam muitos restaurantes(…) vou pedalando devagar (…) às tantas começa um cá um cheirinho a pizza. Rogo umas pragas à dermatite mas vou-me aproximando, “pizzas sem glúten” dizia. Parei logo a bike e sentei-me logo numa mesa. Um jovem funcionário vem ter comigo e peço uma das grandes. Pergunta-se o que beber… Respondo-lhe: se tivesse também cerveja sem glúten é que sabia bem! Claro que sim, respondeu. Venham fresquinhas...




Apeteceu-me dizer: vivo num país atrasado. Aquelas cervejinhas e a pizza souberam-me muito bem, há dois anos que não lhes tocava…

O moço ainda voltou a perguntar: nem a Superbock tem? Deve ter ficado mesmo convencido que vivemos num país atrasado… Talvez não se tenha enganado muito!

Duas belas trutas do rio foi o meu jantar em Herrerias. Decidi acompanhar com um bom tintinho. Bem satisfeito fiquei à conversa com as moças, elas falavam uma espécie de língua mista com calão local, era uma mistura de galego, castelhano e palavras da zona do Bierzo. Foi um divertimento, até porque já conhecia algo das suas tradições e aspirações. Por duas vezes representei o Bloco de Esquerda no congresso do Bloco Nacionalista Galego e no Dia da Pátria Galega e nos encontros e jantares das representações internacionais já tinha tido falado com eles. Pessoas interessantes...

Pronto, tempo de retomar o Caminho.

Aqui a bike foi ao banho, mas eu safei-me :) 
Em Melide foi a última noite antes de Santiago. Mais uma bela sopa, um bife gigante. Aproveitei para lavar a roupa na máquina da pensão. A surpresa foi matinal, acordo com gritos e gemidos, no quarto ao lado havia acção intensa. Coitado do ciclista 😊 Nada a fazer, toca de levantar e começar a preparar as mochilas e equipamentos. Ao pequeno almoço desvenda-se o segredo: uma senhora dos seus 40 anos senta-se na mesa de outra. A companheira ralha pelo tempo que tinha estado à espera dela, mais um pouco um individuo escapa-se furtivamente por uma porta; tinha havido encontro “imediato do terceiro grau” 😉por certo abençoado por Santiago. 👍

O Caminho tem destas coisas, as coisas da vida, as coisas das pessoas!

Pereiro, onde as casas morrem com as pessoas!

O bairro do Pereiro foi o da minha criação, assim diria a minha mãe. A senhora Alice tinha uma mercearia no Largo dos Capuchos, mais conheci...