Dia Internacional da Paz, 21 de setembro.

“92 países estão envolvidos em conflitos fora das suas fronteiras, o maior número desde a criação do IGP. E, segundo a ONU, há mais de dois mil milhões de pessoas cujas vidas são, hoje, afetadas por conflitos e guerras, havendo quase 120 milhões de deslocados devido a guerras, perseguições e outras formas de violência.” Jornal Público 19/09/2024.

“Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar/ Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar”. Esta é a primeira estrofe do poema “Cantata de paz”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, musicado por Francisco Fanhais. É uma canção poderosa, de uma mensagem e de uma voz que nos devia revolver as entranhas do pensamento e indagar sobre o que a humanidade anda a fazer.

Vale a pena pensar, ao menos este dia que foi declarado pela ONU em 30 de novembro de 1981. O dia que se dedica à paz mundial acontece quando o mundo está envolvido na maior violência pós-segunda guerra mundial.

A jornalista do Público, Carla Ribeiro, no seu interessante artigo, entrevista o escritor José Luís Peixoto que – muito acertadamente – diz que o “conflito torna-se tão normal nas nossas vidas que dá a sensação de que estamos todos um bocadinho adormecidos”. “É o resultado, diz, de uma certa desumanização, também alimentada pela banalização dos temas e da forma como os tratamos”. Em sequência, Carla Ribeiro convoca uma frase do raper Mário Cotrim, ProfJam, que “vê nessa desumanização o reflexo da paz orwelliana, onde a guerra é a paz e que a paz se faz pela guerra”.

A violência assume várias formas, como as de comércio, de ideologia e alienação, de domínio político e militar. A violência entra-nos todos os dias pelos noticiários e fez de vários canais TV, como a CMTV e vários canais crime, lugares de conquistas de audiências. Milhões de pessoas dedicam horas de cada um dos seus dias a ver e ouvir violência, e gostam. A TV e os jogos na net são responsáveis, penso eu, pela exacerbada proliferação de atos violentos inacreditáveis feitos por crianças em escolas. Agora, até em Portugal.

É o efeito da popularização da violência sobre as crianças que me preocupa mais. As crianças são as que sofrem as mais duras consequências da guerra e da violência. Há meninos, que por vezes são obrigados a ser homens armados, meninos-soldados, meninos sem meninice, até meninos forçados a ter ódio!

As crianças estão na “linha da frente” dos refugiados, na fome, na privação da escola, na saúde ou no afeto. Há um mês li um artigo [veja aqui] sobre o menino Khalil num sítio da BBC. O menino sírio, que cruzou cinco países da Europa a pé, ”tinha apenas seis anos quando deixou a Síria, palco de confrontos diários, no auge de uma guerra civil”. Como o menino Khalil, o menino Stefan que fugiu da morte do nazismo e que no Museu Aristides de Sousa Mendes “fala” [agora já um velhinho] com outro menino refugiado de uma das guerras contemporâneas. Antes, como na fuga das 10 000 crianças refugiadas judias de comboio no kindertransport, agora como as crianças que fogem de barco atravessando o Mediterrâneo e quantas as que morrem afogadas.

Talvez o dia 21 motive algo de positivo aos vários governantes de vários países da Europa que estão a expulsar os refugiados que cá chegam, fugidos da fome e da guerra, devolvendo-os ao mar, à morte, ou às ditaduras a quem os países europeus pagaram para lá expulsar os seres humanos refugiados. 
Vítor Franco

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