domingo, 16 de julho de 2017

Porque decidi fazer o Caminho de Santiago?

"Viajar é a única atividade em que 
ficas mais rico gastando dinheiro"

1. Foi por fé que decidi fazer o Caminho de Santiago? Não. Queria fazer uma actividade diferente, cultural e até auto reflexão, desportiva em auto suficiência, nova, exigente fisicamente e enfrentar as dificuldades sozinho.
2. O Caminho é uma atividade religiosa? Para a maioria das pessoas sim; para mim, ateu, não. Mas gosto de estudar e compreender as religiões porque elas se ligam à história dos povos, às relações de poder, muitas vezes predominam-se como “ópio”sobre a razão e/ou determinam ou justificam guerras. Não me interessa decorar religiões, interessa-me percebê-las. Não acredito mas respeito. Já visitei muitas e muitas centenas de lugares de culto de variadas religiões.
Sendo, para muitas pessoas, um percurso de fé isso determina a forma como decidem fazer o caminho. Levado ao extremo isso pode conduzir a sacrifícios desumanos, à morte por exaustão, saúde debilitada (…) e há um nº significativo de pessoas que faleceram a fazê-lo. Há, até, muitas “sinalizações” disso mesmo. Perto de A Calzada (a cerca de 36km de Santiago) um jovem “caminhava” cambaleando, completamente exausto e desfigurado, possivelmente desidratado, em “farrapos”; parei a bike falei com ele, quis dar-lhe água e barritas, pedi-lhe para parar e dormir – nada aceitou – só queria andar. Insisti e voltei a insistir, sem resultado… 
3. É arriscado fazer o Caminho de Santiago sozinho? Um pouco! Por isso é necessário tomar cuidados, mas há muitas aldeias e apoios pelo Caminho. O Caminho é uma atividade secular e é hoje um negócio de suporte de e para muitos milhares de pessoas. Aí se incluem albergues, pensões, hotéis, restaurantes, aluguer de cavalos, táxis, bicicletas, carrinhas, clínicas, massagistas… Além de serviços de apoio social comunitário e/ou religioso.
4. Mas não tem mais riscos de bike? Tem. Para que vai de bicicleta, como fiz, o risco é maior e isso requer muita concentração, planeamento, análise de dificuldades, muitas e variadas ações preventivas, seguro de acidentes… Há sempre surpresas ao passar de uma curva, pedras, descidas ou subidas perigosas, possibilidades de quedas “barreira abaixo”, peregrinos parados no trilho a tirar fotos, animais… Mas a vida é feita de riscos, como costumo dizer o lugar mais arriscado que conheço é a porta da minha casa de onde me roubaram um carro…
5. O que preciso para fazer o Caminho? Em primeiro lugar decidires-te a fazê-lo – com antecedência. Nessa decisão tem em conta: i) o teu estado de saúde e capacidade física, ii) o teu tempo disponível, iii) a extensão e a forma de a fazer e iv) a capacidade financeira.
Decidiste fazer. Agora precisas de tempo para planeá-lo e treinar: usa a net para auxiliares as tuas múltiplas opções. Youtube e sites como bicigrino.com/en, gronze.com, editorial buen caminho (tem APP paga), caminodesantiago.consumer.es (revista Eroski) tem APP grátis, Walk and Talk No Caminho de Santiago, Viajar pela Europa - Caminho de Santiago, Tudo sobre o Caminho de Santiago ( Especial Estadão ), Tours Caminho de Santiago, Portal do Peregrino de Santiago, Peregrino Oswaldo Buzzo, O Meu Caminho, O Caminho de Santiago, Mundicamino, Meu Caminho de Santiago, Estadão - Especial Santiago de Compostela, Dicas do Caminho de Santiago, Diario de uma Peregrina, Caminho de Santiago - As Cidades do Caminho Francês, Caminho de Santiago de Bike, Caminho de Santiago, Caminhando eu vou, Amigos do Caminho, AAPCSC - Associação dos Amigos e Peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela, AACS ( Associação Brasileira dos Amigos de Santiago ), A Caminho de Santiago ou A Caminho de Compostela
Prevê os transportes de ida e vinda, consulta a Renfe e a CP (mas os comboios são complicados para as bikes) mas há um autocarro (penso diário) de Santiago para Lisboa, parando em cidades mais importantes (eu vim nele até Fátima). Regista-te, por exemplo, no blablacar e explora-o, foi assim que fui para Burgos.
Nos sites e blogs encontrarás opiniões e sugestões de toda a ordem. Escolhe as tuas… Usar a net é começar a construir uma estrutura mental de viagem.
As minhas opções foram ir de bicicleta, sozinho, sem mapas, sem gps, só seguindo as setas amarelas; perguntei umas 30 ou 40 vezes, meti conversa com as pessoas e fui com espírito positivo. Levei o mínimo peso possível – é que foi preciso puxar por ele. Fecha tua roupa em sacos Zip&Go, pões-te em cima dele e fechas o fecho, o saco fica reduzido a tamanho mínimo e a roupa protegida de água e pó.
Foge das temperaturas mais extremas (o calor foi a minha maior dificuldade), bebe bastante água, mesmo antes de teres sede e com pó ou pastilhas de hidratação, alimenta-te bem, usa gel e proteínas, usa recuperador logo no final da etapa, faz alongamentos, no fim deita-te um tempo com as pernas um pouco levantadas, faz quiromassagem antes de ir (eu dei-me óptimo aqui: https://www.facebook.com/quiromassagemgustavofaria/?fref=ts ), dorme bem.
Leva um picelinho, limpa e lava a bike com frequência, usa óleo, spray ou cera de lubrificação para as partes móveis, reparadores de furos, pneus com líquido reparador já metido; sugiro alforges e não mochila para baixar centro de gravidade e ajudar nas subidas porque o pneu agarra mais à terra… Há vídeos muito ÚTEIS no youtube / pedalaria aqui: https://www.youtube.com/watch?v=UYXGE4d426s 
Diverte-te, vais encontrar lugares e paisagens maravilhosas, conhecer mais da cultura e da história, o teu pensamento vai abrir-se mais ao mundo e a realidades que desconhecias, vais encontrar pessoas simpáticas com quem conversar, vais suar e cansar-te mas isso vai saber-te bem… Vais ficar mais forte!
Além disso, viajar é a única atividade em que ficas mais rico gastando dinheiro!

(Esta viagem foi feita na páscoa de 2017)



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