sexta-feira, 12 de março de 2021

Santarém está muito atrasada. Temos uma vitória a conquistar!

Só um país atrasado entende que as mulheres não devem usar bicicleta porque se excitam, as estradas são para os carros, as ruas só para quem não tem mobilidade reduzida, ou as bicicletas são transporte de pobre!

As pessoas com deficiência também têm direito à mobilidade e ao desporto. As crianças também têm direito à mobilidade e à segurança.

Junto fotos tiradas em Santarém, foto de estacionamento de bicicletas junto a estação ferroviária na Áustria [quando fiz o rio Danúbio] e uma revista sobre ciclismo adaptado, de leitura e download livre e gratuito que podes fazer clicando aqui.

Realmente, Santarém está muito atrasada. Temos uma vitória a conquistar!







Vítor Franco



quarta-feira, 10 de março de 2021

A primeira lei de Newton, a Escola Industrial e o Mercado Municipal



Limpava os meus livros do 12.º ano, tirado à noite, enquanto trabalhador / estudante, na saudosa Escola Industrial, hoje Ginestal Machado, quando dou de caras com o livro de Física.

Este ato de arrumar e limpar livros é prazeroso! Abandono o presente, perco-me no passado, esvoaço em lembranças esquecidas, percorro momentos como filmes em tela…

Trabalhava em turnos rotativos, já era pai, sindicalista, fazia voluntariado associativo… Foi quando chegou a saudosa e para mim inesquecível professora Berta[i]… Nasceu uma paixão, não pela professora, mas pela disciplina de Física que tão bem lecionava… Paixão que criou a ansiedade de saber mais, de compreender mais, melhor…

Quanto mais sabemos, mais percebemos o que imensamente nos falta saber!

Newton “tirou-me do sério”… Com ele encontrei o entendimento de que as leis da Física se aplicam também ao comportamento humano e à sociedade. Com ele e a filosofia de Marx, a compreensão do mundo fez mais sentido!

Cada um, ou uma, de nós é como um grão de areia numa imensa praia – mas não há praia sem grãos de areia! É assim todo o nosso planeta, toda a via láctea, todo o imenso universo…

Há uma lei de Newton que aprecio em particular: a primeira lei, eu chamo-lhe simplesmente a “lei do movimento uniforme e retilíneo”. Mais ou menos isto: um objeto estará em repouso ou prosseguirá em movimento retilíneo e uniforme se sobre ele não atuar nenhuma força ou se o resultante das forças que atuarem for igual a zero.

- Como se liga essa lei ao Mercado Municipal, perguntarão?

- Pela primeira vez, neste mandato autárquico, houve forças que atuaram sobre o movimento “retilíneo” [de privatizações] da Câmara! Houve iniciativas cidadãs, Cartas Abertas, pronunciamentos variados na comunicação social, movimentações na comunidade… Essas iniciativas e esses pronunciamentos agiram como vetores de forças sobre o objeto: a decisão de Ricardo Gonçalves de concessionar o Mercado a privados.

Muitos grãos de areia decidiram mover-se e a praia alterou-se. A consciência e a palavra de cada grão induziu uma ação e reação de outros grãos, qual terceira lei de Newton! Todo esse “pequeno” sobressalto físico e cívico agiu sobre a decisão da Assembleia Municipal originando uma força de reação em oposição ao movimento do objeto e obrigou-o a parar!

Abandono o presente e reencontro-me com o passado, aquele momento em que pergunto à professora Berta que livro me aconselharia para continuar a ler física e em particular astrofísica.

- “Um pouco mais de azul[ii], de Hubert Reeves[iii], se bem me lembro...

Saiba, cara leitora ou leitor, o que escreve Hubert na dedicatória: “este livro é dedicado a todas as pessoas maravilhadas com o mundo”!

Maravilhe-se, seja um grão de areia em sobressalto!

Vítor Franco


[i] Já não me lembro do sobrenome da professora Berta…
[ii] O título da edição portuguesa reproduz um fragmento do poema “Quase”, de Mário de Sá Carneiro.
[iii][iii] Hubert Reeves, “Um pouco mais de azul”, Lisboa, Gradiva.

segunda-feira, 8 de março de 2021

"A BICICLETA COMO UM VEÍCULO FEMINISTA" - VIVA O 8 DE MARÇO!

Cristina Spínola afirmou o empoderamento da mulher, o direito à igualdade, à mobilidade global e fez uma volta ao mundo em bicicleta que pode ver aqui numa entrevista televisiva.


"Igualdade e diversidade" é um vídeo, com a participação da Cristina, que afirma esse empoderamento feminino, a igualdade e celebra o 8 de Março, uma ação da Concejalía de Igualdad y Diversidad del Ayuntamiento de Las Palmas de Gran Canaria que pode ver clicando aqui.

Rute Norte tem um site que merece a nossa visita. Ativista cultural e dos direitos dos animais, é uma credenciada artista plástica "viajou pelo Quénia, Austrália, Amazónia, Patagónia, Gronelândia, Timor, Vietname, São Tomé e Príncipe, Índia, Egipto, Tunísia, China, Nova Iorque, Seychelles, fez as 9 ilhas dos Açores em bicicleta, e claro, viajou por vários países na Europa."

Rute Norte, de bicicleta pela China

Outra mulher de garra é a Tânia Muxima. Sim é uma mulher sem medos mostrando que é o sexo forte. São imensas as aventuras da Tânia, elas podem ser vistas na sua página de Instagram clicando aqui. E quando a Tânia andou a fugir à polícia de bicicleta no Cazaquistão eh eh eh... 


Passando a uma abordagem académica, a relação entre o avanço do feminismo e a bicicleta é dada por Vivian Machado. No "Seminário Internacional Fazendo Gênero" Vivian apresentou um trabalho de que cito:


"A mulher tem uma ligação de libertação à bicicleta. Sobre a mulher recaiam impedimentos morais da época, como a proibição de associações de mulheres ciclistas e com a criação de mitos como uma possibilidade de atrofiação do útero ao pedalar...

A bicicleta é um instrumento utilizado pelos movimentos sociais atuais e pelo debate feminista como uma representação da conquista de direitos e como uma extensão do próprio corpo que busca retomar para si a independência da mobilidade na cidade.

Pedalar se apresenta como um ato político, de reivindicação do espaço público como de direito aos sujeitos. Dentre as apresentações de falas e debates atuais, o feminismo e o cicloativismo têm muito a caminhar ainda juntos
..."


Partilho aqui todo o texto, que é público e recomendo. Clique aqui para ler.

A todas obrigado pelo seu exemplo!

Vítor Franco

quarta-feira, 3 de março de 2021

Fanzine de mulheres em bicicleta

Por vezes caímos na tentação de relatar as audaciosas cicloviagens deixando a sensação: "isto não está ao meu alcance".

A publicação de hoje é muito gira. Ela tem ilustrações interessantes e trata o início da "relação" entre a mulher e a bicicleta, é o abc autêntico para a mulher que nunca andou de bicicleta. 

1. Aprendendo a andar de bicicleta, 2. Pedalar em dias de chuva, 3. Seguranças nas vias, 4. Registo de bicicleta, 5. Recomendações, 6. Sinalização, 7. Como prender a bicicleta.

Clique aqui e leia a revista.







terça-feira, 2 de março de 2021

A velha das laranjas, as galegas e o eletricista

A vendedora de laranjas - Maria de Lourdes Melo e Castro

Olhei a velha… “em frente de um cesto com laranjas e limões, uma vendedora idosa, sorridente (…) exibe uma laranja na mão direita. Veste blusa branca e tem na cabeça um pano castanho alaranjado com várias dobras, deixando parcialmente descoberto, sobre a testa, o cabelo branco, penteado para trás…”

Dirijo-lhe palavra:

— Olá, bom dia! Como está a senhora?

— Bom dia senhor Vítor, vou bem, olhe, como Deus manda, sabe, ando nervosa, sabe, assinei a carta à Câmara, sabe… Já viu? Quererem fazer-nos uma coisa destas com esta crise… E a gente já velhas? Já viu? Então o que vai hoje?

— Compreendo-a, há muitas mais pessoas que vos compreendem, dia 8 fica decidido, vamos ter esperança… As laranjas este ano apodrecem rápido… Quero dois quilos, tenho aqui saco…

— Traz ovos frescos das suas galinhas? Se tiver quero uma dúzia…

— Sim, aqui estão… Você, fale lá homem, não se acanhe…

Pago.

Procuro a vizinha da velha, chamo-lhe a mulher das cebolas — mas ela gosta! Ainda se lembra da foto que lhe tirei no mercado de Rio Maior, pausava amamentando um petiz agora “homem de ir à tropa”. Homem feito, ajuda a mãe no mercado e na horta… O pai ficou desempregado e faz biscates nas obras… Cuida também da horta; que bela horta, sim, que eu já a vi, de lá vêm as cebolas, não há cebolas como aquelas…

Artur Alves Cardoso, “Uma pausa forçada”, 1913, óleo sobre madeira.


Encontro-a, meto conversa com a vizinha da velha, a mulher das cebolas… Pergunto-lhe pela irmã, sim, também já tenho uma foto dela, é uma mulher muito bonita…

— Então a sua irmã? Hoje não veio mostrar a carinha linda?

— Ah!? Senhor Vítor, não seja malandro, olhe que eu também não sou feia… A galega mais nova ficou a apanhar agriões e nabiças para fazer molhos para vendermos amanhã… Quer que lhe guarde?

— Sim, quero, um molho de cada. Já sabe da Assembleia Municipal, não sabe?

— Sei pois, também assinei aquele papel. Sabe senhor Vítor, há gente que não se lembra da pobreza, falam, falam, mas não ligam aos pobres, ao nosso sustento, sabe? O senhor está do nosso lado não está?

— Claro que sim, então devia estar de que lado? As senhoras são a vida da terra… Vou lá defender que não haja concessão aos privados, que a gestão seja municipal e nós possamos fiscalizar…

— Pois, eu li o que o senhor escreveu com os seus amigos… Sabe, olhe que está bem, sabe senhor Vítor, eu vou ver pela internet, é segunda-feira dia 8 às 8 da noite não é?

— Sim, com isto do Covid a Assembleia Municipal é pela internet… Vá, até amanhã. E traga a galega nova que ela continua gira…

Henrique Medina, “Rapariga da Galiza”, (cerca de 1948), óleo sobre tela.

Sorrimos os dois…

A mãe e o pai tinham vindo lá de cima, da Galiza, com as duas filhas, à procura de melhor sorte nas Minas do carvão de Rio Maior. O fim da mina, em junho de 1969, ditara-lhes o fim da esperança… O homem amofinou, entregou-se à taberna… Arribou e voltou ao campo… Morreu novo, coitado! Ficaram a mãe e as filhas, sozinhas, sem casa e sem pão…

José Moreira Rato, “Sem casa e sem pão”, 1919, mármore.

Agarraram-se à amanha da horta e vendem no mercado… Amanhã não me posso esquecer dos agriões, são bons para o ácido úrico e estes não trazem aqueles químicos… E vou comprar mais laranjas à velha… Ela até gosta que eu lhe chame a velha das laranjas. Às vezes responde:

— Diga lá velho eletricista?

Pois é, dia 8 lá estarei, [na Assembleia Municipal] a defender o pão delas, o delas e o meu porque todos juntos somos uma comunidade… Sim, elas também são gente com o coração à esquerda!

 

Vítor Franco


Créditos de fotos: Vítor Franco, Museu José Malhoa, 2020.

Quadros:

Maria de Lurdes de Mello e Castro, “A vendedeira de laranjas”, 1929, óleo sobre tela.

Artur Alves Cardoso, “Uma pausa forçada”, 1913, óleo sobre madeira.

Henrique Medina, “Rapariga da Galiza”, (cerca de 1948), óleo sobre tela.

Escultura:

José Moreira Rato, “Sem casa e sem pão”, 1919, mármore.

Texto ficcionado.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Sete sinais de advertência de enfarte

Um dos melhores canais sobre exercício e viagens em bicicleta é o de Cristina Spínola. Para além de ser uma experiente ciclista que viaja sozinha pelo mundo, com livro publicado, a Cristina mantém um dinâmico canal no youtube.

Aqui fica mais um exemplo do seu ótimo trabalho:




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Viajar de bicicleta com crianças, na Rota dos Sete Lagos

A revista Bicicleta, publicada no Brasil, mas com acesso gratuito via issuu [clique aqui] celebrou o seu nº 100 com interessantes matérias. Destaque para um casal que resolver fazer a Rota dos Sete Lagos, dos Andes e desse destaque damos aqui relevo.

Interessante também a entrevista a três mulheres ciclistas e ainda as "Apertos que valem a pena" na costa do  Uruguai. Há também novidades sobre bicicletas elétricas.










sábado, 20 de fevereiro de 2021

Ela viajou 3 anos em bicicleta, sozinha... E conta a sua sensação de liberdade numa curta metragem premiada

Apresento-vos PEDAL

Clique na imagem e veja o filme


"O sucesso deste curta-metragem, que nasceu de um encontro entre o cineasta Scott Hardesty e eu [Hera] no Banff Festival 2016, superou todas as nossas expectativas. Ela foi selecionada para o BMFF World Tour, solicitada por vários festivais de filmes de aventura (e, acredite ou não, o Festival de Cinema Feminista de Londres) e foi aceite por todos os festivais que a inscrevemos também.

Para Scott e para mim, isso é mais do que ousamos esperar.

Nosso objetivo era capturar a história de porque eu ando de bicicleta ao redor do mundo e o que significa para mim fazer isso em 8 minutos de filme."

Créditos: Blog da Hera

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Como lidar com os medos de viajar de bike?

Chegou mais uma publicação de partilha de experiências de cicloviajantes. Hoje a questão do medo de ir sozinh@ ou para lugares desconhecidos.

Com base na minha experiência pessoal, eu abordei o tema e poderá ver clicando aqui. Deixo, também, umas notas pessoais que pode ver aqui.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

De Berlim a Copenhaga / cidade de 3 milhões de habitantes e milhares de kms de ciclovias

Só por cá é que fazer uma ciclovia é uma complicação. Portugal é um país pequeno, de cidades pequenas e mentalidades pequenas em que as ciclovias são problemas grandes e não soluções!

Este vídeo demonstra bem como cidades populosas, mobilidade, cultura e natureza podem andar de mãos dadas. 

Confira no "Bike é legal"



Pereiro, onde as casas morrem com as pessoas!

O bairro do Pereiro foi o da minha criação, assim diria a minha mãe. A senhora Alice tinha uma mercearia no Largo dos Capuchos, mais conheci...