quarta-feira, 10 de março de 2021

A primeira lei de Newton, a Escola Industrial e o Mercado Municipal



Limpava os meus livros do 12.º ano, tirado à noite, enquanto trabalhador / estudante, na saudosa Escola Industrial, hoje Ginestal Machado, quando dou de caras com o livro de Física.

Este ato de arrumar e limpar livros é prazeroso! Abandono o presente, perco-me no passado, esvoaço em lembranças esquecidas, percorro momentos como filmes em tela…

Trabalhava em turnos rotativos, já era pai, sindicalista, fazia voluntariado associativo… Foi quando chegou a saudosa e para mim inesquecível professora Berta[i]… Nasceu uma paixão, não pela professora, mas pela disciplina de Física que tão bem lecionava… Paixão que criou a ansiedade de saber mais, de compreender mais, melhor…

Quanto mais sabemos, mais percebemos o que imensamente nos falta saber!

Newton “tirou-me do sério”… Com ele encontrei o entendimento de que as leis da Física se aplicam também ao comportamento humano e à sociedade. Com ele e a filosofia de Marx, a compreensão do mundo fez mais sentido!

Cada um, ou uma, de nós é como um grão de areia numa imensa praia – mas não há praia sem grãos de areia! É assim todo o nosso planeta, toda a via láctea, todo o imenso universo…

Há uma lei de Newton que aprecio em particular: a primeira lei, eu chamo-lhe simplesmente a “lei do movimento uniforme e retilíneo”. Mais ou menos isto: um objeto estará em repouso ou prosseguirá em movimento retilíneo e uniforme se sobre ele não atuar nenhuma força ou se o resultante das forças que atuarem for igual a zero.

- Como se liga essa lei ao Mercado Municipal, perguntarão?

- Pela primeira vez, neste mandato autárquico, houve forças que atuaram sobre o movimento “retilíneo” [de privatizações] da Câmara! Houve iniciativas cidadãs, Cartas Abertas, pronunciamentos variados na comunicação social, movimentações na comunidade… Essas iniciativas e esses pronunciamentos agiram como vetores de forças sobre o objeto: a decisão de Ricardo Gonçalves de concessionar o Mercado a privados.

Muitos grãos de areia decidiram mover-se e a praia alterou-se. A consciência e a palavra de cada grão induziu uma ação e reação de outros grãos, qual terceira lei de Newton! Todo esse “pequeno” sobressalto físico e cívico agiu sobre a decisão da Assembleia Municipal originando uma força de reação em oposição ao movimento do objeto e obrigou-o a parar!

Abandono o presente e reencontro-me com o passado, aquele momento em que pergunto à professora Berta que livro me aconselharia para continuar a ler física e em particular astrofísica.

- “Um pouco mais de azul[ii], de Hubert Reeves[iii], se bem me lembro...

Saiba, cara leitora ou leitor, o que escreve Hubert na dedicatória: “este livro é dedicado a todas as pessoas maravilhadas com o mundo”!

Maravilhe-se, seja um grão de areia em sobressalto!

Vítor Franco


[i] Já não me lembro do sobrenome da professora Berta…
[ii] O título da edição portuguesa reproduz um fragmento do poema “Quase”, de Mário de Sá Carneiro.
[iii][iii] Hubert Reeves, “Um pouco mais de azul”, Lisboa, Gradiva.

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