| Foto de António Cotrim / Lusa. |
Entre 2000 e 2025, as empresas do PSI 20 acumularam aproximadamente 100 mil milhões de euros em lucros líquidos, com forte participação das empresas de energia, banca, retalho e papel. Destes lucros, distribuíram 60 mil milhões aos acionistas, taxa média de distribuição (payout ratio) de 60% ao longo do período, segundo o Jornal Económico. Tudo isto apesar de covid, guerras, instabilidade política e financeira na Europa e no mundo (…) a prioridade foi remunerar acionistas!
A EDP destacou-se. Hoje a digitalização das redes e da sua operação, os telecomandos e a inovação tecnológica, as inovadoras formas de produção de energia diminuíram exponencialmente a mão de obra. A contratação de empreiteiros para tarefas permanentes, substituindo trabalhadores do quadro por precários subcontratados, vai tornando o trabalhador com direitos estáveis numa “espécie em regressão”.
Coincidência, ou talvez não, i) o atual secretário de Estado era o anterior responsável das relações laborais da EDP, ii) os argumentos deste governo na pretensão deste pacote laboral são idênticos aos usados pela EDP para tentar agora a denúncia do Acordo Coletivo de Trabalho.
Como salientou a economista Helena Garrido, o país tem um enorme “peso dos sectores de valor acrescentado muito baixo”. Este facto é estrutural há muitos anos no país, no desiderato da competitividade. Portugal especializou-se a servir à mesa, a fazer camas, a produzir frutas de elevado consumo de água e outras produções de baixo valor acrescentado.
A recuperação salarial de milhões de pessoas castigadas pela troika, pela salvação dos bancos e pela pobreza “endémica”, poderá ter influenciado os custos unitários do trabalho em processos produtivos atrasados e os resultados de pequenas empresas em setores como o calçado, têxteis, e outras empresas de setores intensivos em mão de obra… Muitos empresários têm mostrado resistência à inovação tecnológica, à inovação e à criatividade, mantendo processos de trabalho cuja produtividade depende mais do número de braços e de mais horas de trabalho do que da modernização tecnológica e inovação.
Compreende-se [digo eu] que a “produtividade portuguesa seja 80% da europeia, por trabalhador”; também quando “34% dos trabalhadores têm formação superior, para apenas 28% dos empregadores” [Helena Garrido].
O futuro faz-se com futuro!
A solução para diminuir os custos do trabalho por unidade produzida (CTUP) não passa por obrigar as pessoas a trabalhar sem receber horas extraordinárias, nem por diminuir ainda mais aquele que já é dos salários mais baixos da Europa, nem por destruir a contratação coletiva que constrói democraticamente uma relação comunitária mais justa!
A solução para uma boa economia não passa por retroceder nas relações sociais e empobrecer as pessoas, passa pela modernização, inovação, investigação e fomento dos setores económicos de mais valor acrescentado com empregos de futuro. Uma economia que mantenha os “30 mil jovens qualificados (com ensino superior concluído) que emigram por ano em busca de melhores condições de vida e salários”. Essa fuga “representa uma perda estimada de 2 mil milhões de euros por ano para a economia portuguesa” segundo a Federação Académica do Porto.
Uma vida digna não passa por tornar ainda mais instável e precária a vida das e dos trabalhadores, dificultar ainda mais a maternidade e a paternidade - quando caminhamos para um país de velhos -, e, antidemocraticamente, limitar direitos constitucionais como a liberdade sindical e o direito à greve!
Aderir e apoiar a greve geral de 11 de dezembro é um ato pela justiça e respeito das e dos trabalhadores. Por uma vida digna!
Vítor Franco
P.S. Poderá ler informação detalhada e simples no link do Sindicato das Indústrias de Energia e Águas de Portugal (SIEAP) clicando aqui.
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