Parti sem ter feito preparação física prévia, o que teve consequências à medida que o esforço se estendia no tempo. O mau tempo, em particular a chuva e o frio, acrescentaram dificuldades.
A saída do Porto é algo confusa, até porque há três Caminhos portugueses: o do litoral, o do interior e o central que é o que nós fizemos.
Na primeira etapa, 56 km, 40 km foram debaixo de chuva - muitas vezes torrencial. A chuva tornou-se omnipresente e transformou muitos trilhos em ribeiros e trilhos secos em lama. O esforço para progredir no terreno foi muito maior.
Primeira sensibilização: preparação prévia. No caso do BTT, em particular, é preciso treino de subidas curtas e íngremes, antecipação de redução de mudanças, hábitos reforçados a retirar o pé quando se usam sapatos de encaixe.
"Dançar" na lama para não cair e ficar atascado nas poças até tem a sua “piada”. Mas o que é nefando é passar por trilhos onde os suinicultores largam o aromático perfume dos porcos e nós ficando pintados de negro e “perfumados” a valer.
Roda reparada, lá avançámos 5 km; pois (…), só 5… As pastilhas do travão traseiro da bike do Hugo “deixaram” definitivamente de existir. Mas eis, “tam tam tam tam (…)”, nova oficina de bikes, iupiiii.
O tempo ajudou e o dia estava menos desagradável. Já tarde adiantada chegámos à temida subida da Labruja. Primeiro foi uma festa empurrar a bike “calhaus acima”. Depois a festa perdeu graça, o cansaço, o frio e a água no trilho começaram a ditar novas condições.
Mantivemos a calma e resolvemos descer a serra fosse onde fosse o trilho / estradão parar. Gelados mas calmos chegámos ao alcatrão. Esperámos um carro e pedimos ajuda. Mais 6 km e chegámos a um café que nos deu comida e dormida.
Segunda sensibilização: as setas do Caminho devem, em regra, ser seguidas. Afinal nós tínhamos ficado muito perto de passar o cume e chegar à povoação mais próxima.
foto do site da Câmara Municipal de Valença |
A terceira etapa uniu Cepões à galega Cesantes. Muito agradável a entrada em Valença do Minho, entrar na estratégica fortaleza pela Porta da Coroada, percorrer o seu interior e sair por um túnel abobadado na Porta da Gaviarra (clique aqui e leia mais sobre Valença) é muito interessante.
Terceira sensibilização: tenha prazer no seu Caminho. “Saboreie” Valença e Tui. O Caminho não é uma corrida “papa-km” é um ato cultural e social e se for o seu caso religioso também.
Algumas bandeiras independentistas galegas começaram a ver-se em janelas, várias placas escritas originalmente em castelhano mas emendadas a spray para galego...
A última etapa da “aventura” validou as agradáveis premissas já evocadas. Gostei imenso do percurso de uns 8 km junto ao rio Tomeza, ou rio dos Gafos (em gallego-português a palavra gafo significava leproso, clique aqui e leia aqui sobre o rio que foi recuperado pela ação independente aos poderes por um grupo de cidadania), passou pela bonita cidade de Pontevedra – uma cidade bem cuidada, limpa, com um bonito centro histórico.
O Caminho intercalava trilhos, estradões e ruelas de pequenas e bonitas aldeias com cruzamentos da movimentada N-550 na qual fizemos (a meu pedido devido ao cansaço) os últimos 11 kms.
Leia aqui mais informações sobre a cidade.
Livro
sobre o Caminho Português em pdf, do site www.amigosdelcamino.com ou http://www.vialusitana.org/caminho-portugues/guias/
Quarta sensibilização: faça-se cidadão ou cidadã ativa, defenda a natureza!
Muito bem. Parabéns pela volta e pelo relato. Abraço
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