Reparem que não há um único eucalipto.
55km mais, falta pouco...
Hoje poderia falar-vos da estrada romana, das florestas de carvalho e castanheiros, da espetacular descida em adrenalina em "milhões" de calhaus para Belesar no Rio Minho e quando vamos a chegar ao rio olhamos em frente e à nossa frente está uma linda e enorme encosta toda cultivada de vinha em socalco tal como o nosso Douro.
Poderia, pois, mas hoje partilho convosco um vídeo que
gravei, substituindo o meu artigo semanal, está publicado no jornal online mais
Ribatejo.
E digam lá que eu não estou bonito... 😀😀
Hoje foram 56,8 km de dureza no Caminho de
Inverno. Afinal tudo isto são Desafios
Positivos D+
Vítor Franco
"Gente do nosso pano"* pode intitular-se a nota deste dia.
A gente sem nome que colocou à beira do Caminho um cesto de
fruta, sumos, leite, café, água, tudo gratuito, sem ter sequer uma caixinha
para moedas. Não quis tirar nada pois tinha comida e podia fazer falta a quem
viesse atrás.
A gente, Florbela
Afoito e Jorge
Salgueiro ,que me deram um planeamento detalhado que está a ser
imprescindível para este desafio, também é do nosso pano!
"Gente do nosso pano" é também o título feliz de
uma peça de teatro escrita e encenada pelo amigo José
Gaspar [tb é do nosso pano] a quem roubo este título. É que não encontrei
ideia tão bonita quando vi o cesto das frutas...
Por fim, o dia começou "lindo" quando chego à
bici, de manhã, e os pneus estavam vazios. Os bicos da rocha xisto tinha-me
furado os dois pneus em vários lugares. Reparado o que foi possível lá fui a
outra localidade onde coloquei novas câmaras de ar - com líquido - anti furos.
As velhas ficaram de reserva.
O céu vermelho da véspera já tinha anunciado mais um dia de
calor e ele veio.
Ao fim do percurso veio uma prenda: uma bela figueira
carregadinha a oferecer-me num largo sorriso. Contrariado lá parei, toca de
comer figuinhos, alguns tinham bicho mas eu solidário com a figueira comi tudo;
da próxima vez as lagartas já não se metem com aquela figueira senão já sabem o
que lhes acontece.
Amanhã há mais!
Vítor Franco
A primeira etapa pode começar com visita a Ponferrada, cidade onde se cruzam dois caminhos. Vale a pena.
A parte mais espetacular e difícil foi a subida a Villavieja
[vídeo] é
durinha, mas quando chegamos lá acima…
Esta etapa, de lindas aldeias, lindas montanhas e vales,
duas subidas duras, uma descida de 8km a puxar pela "pica", 47,7km de
etapa de Ponferrada a Sobradelo que custaram como 100km.
Primeiro dia do #CaminoDeInvierno
depois de 17h30 em transportes e uma noite sem dormir.
Depois da primeira noite sem dormir pois cheguei de
autocarro ALSA a Ponferrada
às 5h30 da manhã, a noite no primeiro albergue soube muito bem. De manhã a
surpresa: os dois pneus da bicicleta vazios. Tinha-me esquecido de por líquido anti
furo e as pedras aguçadas fizeram estragos… Já sabem…
Nicolas Andre Monsiau - Alexander and Diogenes 1818. |
Consta-se que Alexandre Magno, o Grande, um dia foi visitar o filósofo Diógenes, o Cínico, que vivia no seu barril. Chegado ao barril, o poderoso Alexandre perguntou a Diógenes se havia alguma coisa que pudesse fazer por ele. Ao que este respondeu: “Sim, vá um pouco para o lado, está-me a tapar o sol”. A resposta é verdadeiramente surpreendente, até porque Diógenes era despojado de posses e estava respondendo a um imperador de vitórias contínuas em suas batalhas.
Este episódio, profusamente relatado e conhecido, veio-me à
memória quando vi as notícias sobre a inauguração do monumento às vítimas da tragédia
de 2017 em Pedrogão Grande que matou mais de sessenta pessoas e deixou
prejuízos avassaladores na natureza e na vida das comunidades.
Em 2017 António Costa decretou três dias de luto nacional,
visitou a região, e disse no debate do Estado da Nação na Assembleia da
República, conforme cito do jornal
Económico:
Em resposta à tragédia, Costa diz que as “tarefas imediatas” consistem
em “reconstruir o que foi destruído” e também “esclarecer cabalmente o que
aconteceu e apurar responsabilidades.” …
Além das “tarefas imediatas”, Costa referiu-se ao “desafio estrutural” de
“revitalizar o interior e reordenar a floresta” de Portugal. Em relação a esse
desafio apelou ao “esforço conjunto para consensualizar esta reforma
estrutural.” E advertiu: “Não podemos continuar a lamentar que o grande
problema é o abandono das florestas e não aprovar os instrumentos de mobilização
das terras ao abandono.”
Depois das várias “tragédias
continuamos a ser o país do mundo com maior área de eucaliptal e o país que
mais arde no Mediterrâneo” conforme explicou João Camargo, investigador em
alterações climáticas, no jornal
Expresso. Os desastres sucedem-se, mais de cem pessoas morreram
carbonizadas…
Revitalizou-se o interior? Continua a perder população! Reordenou-se
a floresta? A área de eucalipto cresce! Bolsa Nacional de Terras? A última
notícia é de abril de 2018 e regista umas insignificantes 774 parcelas!
Há um ano escrevi sobre o tema aqui
no jornal Mais Ribatejo, recomendo vivamente a leitura. De então para cá
parece que o facto mais revelante que aconteceu foi a inauguração do monumento
aos mortos na tragédia; mas nem a inauguração escapou à incompetência e autofagia
dos “casos e casinhos” governativos.
As populações do interior já estão quase como Diógenes a
pedir esmola a uma estátua. À indagação da sua conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega
e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem
depender de alguém."
No artigo
citado relatei 9 factos que comprovam a incompetência no tão proclamado
apoio ao interior do país. Nele descrevi também como é possível e é
preciso “plantar água”. O biólogo Ricardo Leitão prova como se faz com sucesso.
[Leia aqui o exemplo dos Sistemas Agroflorestais de Sucessão]. Em
consequência: há conhecimento científico, há comprovadamente soluções para sair
do fosso em que este modelo destruidor da natureza e do interior do país nos está
a colocar.
O conhecimento, a cidadania, os movimentos ambientalistas já
nos “mostraram o sol”. Porque é que se continua a fracassar?! Vale a pena
pensar e perguntar…
Dos bombeiros às populações e aos movimentos cívicos, a
minha solidariedade e esperança para todas as pessoas que não desistem!
O bairro do Pereiro foi o da minha criação, assim diria a minha mãe. A senhora Alice tinha uma mercearia no Largo dos Capuchos, mais conheci...