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A bicicleta e o canal |
1. O que é
o Canal du Midi?
Texto de abordagens sintéticas, pois sou adepto da pesquisa de
cada pessoa; a pesquisa e a preparação fazem parte da descoberta e do interesse
em construir a viagem que mais se gosta. Os links
dão a complementaridade necessária. Este é o texto que enquadra o essencial da
viagem.
Construído no século XVII o Canal du Midi é uma
extraordinária obra, património mundial, que é hoje uma referência turística e
ecológica do sul de França.
Percorrer o canal é também uma visita à medieval história dos
cátaros e ao seu extermínio pelas invasões das cruzadas da igreja católica
romana. É também trazer à memória a tragédia que foi o ditador Franco de
Espanha, a fuga de centenas de milhares de republicanos espanhóis homenageados
na histórica vila circular de Bram
onde existiu um campo de acolhimento.
São imensos os factos históricos que merecem visita e
conhecimento, mas também a boa gastronomia com o vinho a acompanhar os pratos
típicos. O cassoulet
é imperdível, de preferência acompanhado de tinto! Na “batalha” reivindicativa
da lenda que deu origem ao prato opõem-se Castelnaudary [o coração da construção do Canal du Midi com o seu
grande lago: a“Grande Tigela”] e a líndissina Carcassonne em
cujo castelo fiz um vídeo.
O Canal pode ser percorrido como quiser: a pé, de bicicleta ou de
barco. São muitos os parques de campismo, os barcos hoteleiros, as zonas de apoio…
Tudo depende do gosto, da possibilidade económica e física e até do conceito de
viagem de cada pessoa. As muitas hiperligações que faço ajudarão as escolhas e
cada pessoa definir a sua viagem.
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Carcassonne, património mundial
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2. Beleza
e percurso.
A região do Sul de França é muito interessante. Ali se cruzam
civilizações, disputas económicas e religiosas, línguas e culturas. Já ouviu
falar na língua
occitana, da Occitania?
E no pastel?
A religião
cátara, apesar de extinta, ainda hoje marca presença na monumentalidade
e na cultura. Descubra porque os cátaros eram vegetarianos e defendiam “a terra
a quem a trabalha”, sendo oponentes da propriedade privada. Os cátaros, massacrados pelas
cruzadas da igreja católica romana, reagiram contra a inquisição e vingaram-se
em Avignonet.
A viagem começou em Toulouse, para onde fui de
avião, seguindo-se lugares muito interessantes até Castelnaudary onde a bicicleta avariou e tive de ir de comboio
para a cidade património mundial Carcassonne onde foi
reparada. Prosseguindo os trilhos (…) perto da aldeia de La
Somail [que tem uma das melhores e mais famosas livrarias de livros antigos do mundo] fiz um
desvio para norte, para Minerve
– uma das aldeias mais belas da França. Após dois dias em Minerve, retomei o
canal e fiz novo desvio, agora a sul, para uma ida à Abadia de Fontfroide. Após visitar a
abadia segui então para Narbonne onde dormi; a vinda de Cesseras / Minerve para
Fontfroide e depois Narbonne até Bézier foram os dias mais duros: vento contra,
chuva e frio. A partida de Narbonne fez-se, à chuva, pelo Canal
de Robine; obras no Canal obrigaram-me a
voltar atrás e, debaixo de fome e chuva, apanhei a estrada para Cuxac-d’Aude onde uma
francesa me ofereceu comer [ver
relato no face]. Retomei o Canal du Midi em Capestang
e daí até Bézier. Aprecie Bézier de longe, junto às lindas e famosas 9 Écluses de Fonseranes.
Passar entre o Mediterrâneo e a
Lagoa
de Thau é um privilégio de contato maravilhoso com a natureza e as milhares
de aves, em particular flamingos. Chegar a Sète é chegar à meta, a um grande
porto e uma cidade dinâmica.
Oficialmente, o Canal du Midi termina na lagoa e em Sète. Eu segui
para a linda vila fortificada de Aigues
Mortes e fiquei em Vauvert. Depois foi comboio: Nimes,
Arles,
de bicicleta subindo à bonita Les Baux-de-Provence e ao sensacional Carrieres de Lumieres e depois comboio de Arles
[onde, no coliseu romano, gravei este
vídeo para o jornal Mais Ribatejo] a Marselha
com volta de avião…
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Vista para Béziers |
3. Porquê
a opção de fazer em bicicleta?
A bicicleta permite uma liberdade de movimentos e acesso a locais
só assim possíveis. Ela implica outra logística, outros equipamentos, mas a
solução isso ganha-se com a prática.
A chegada implica levar a bicicleta desmontada [o Edu mostra aqui uma
superproteção] em caixa e remontar à chegada. O aeroporto
de Toulouse, que tem voos diretos de Lisboa, é pequeno e simples – mas
fiquei com a noção de que as descargas não funcionam bem: a minha bicicleta não
aparecia nas bagagens fora de formato e foi descoberta por um funcionário num
elevador ??!!
Para o acesso à cidade rosa aconselho o metro de superfície, o Tram,
que parte logo em frente ao aeroporto e tem máquinas de compra de bilhete.
Para Lisboa voltei de avião de
Marselha, também um aeroporto de fácil acesso a partir da estação
ferroviária de Vitrolles
Aéroport e logo na estação a ligação rodoviária gratuita pela Navette Aeroport. No próprio aeroporto
há serviço de bagagens, a Safe Bag, que vende a caixa de
cartão para a bicicleta a 25€. Por precaução leva um rolo de fita adesiva larga
Comer é para mim um desafio devido à intolerância ao glúten, mas pode-se
comer bem pagando 5 a 10€ a mais do que seria em Portugal. Para dormir eu partilhei
a rede de ciclistas viajantes warmshowers
e hotéis baratos. Apesar de levar tenda não a usei, até porque as noites
estavam frias e algumas noites choveu.
4. Os
percursos, links os receios.
Descrevo cada lugar em particular, ver os links no fim, por certo aumentará o seu prazer de descoberta. Os
muitos links, as fotos e vídeos por
certo cativarão a sua visita!
Até Sète demorei 10 dias, viajando nas calmas, em segurança,
conhecendo os locais e aprendendo a sua cultura.
O mundo não é tão perigoso como se pensa, há muitas pessoas
solidárias que se oferecem para ajudar ou até só conversar. Quando, por cá, as
pessoas me abordam falam quase sempre do medo de viajar sozinho por lugares
desconhecidos, o receio de “acontecer alguma coisa”, a insegurança de não se
ter tudo definido à partida. Amig@s, não tenham receio.
Em toda a Europa há serviços públicos de saúde que podem usar com
o também gratuito Cartão
Europeu de Seguro de Doença. É claro que é preciso ter os cuidados que
também aqui devem ser usados.
Eu faço de cada viagem uma aprendizagem, o prazer de conhecer.
Fica aqui o desafio: experimente viajar em bicicleta!
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Bicicleta avariou em Castelnaudary, comboio até Carcassonne |
Publicação
1 chegada a Toulouse;
Publicação
2, belezas em Toulouse;
Publicação
3, como bem se faz a ligação ao rio;
Publicações
4, 5
e 6
o a beleza do Canal;
Publicação
7, a linda Carcassonne;
Publicação
8, imagens que parecem pinturas;
Publicação
9, de Carcassonne a Cesseras com almoço em Trèbes, aldeia das flores;
Publicação
10, das grutas, canyon e aldeia medieval de Minerve;
Publicação
11, da aldeia de Le Somail à abadia de Fontfroide;
Publicação
12, da chuva e da lama ao reavivar da “Liga dos Justos”;
Publicação
13, chegada a Sète, os percursos, o fim oficial do Canal du Midi
Publicação
14, espetaculares vistas à beira mar nas ciclovias
de l’Hérault;
Publicação
15, a cidade romana de Nimes;
Publicação
16, na arena romana de Arles, do mitraísmo romano às touradas de hoje;
Publicação
17, a bela Arelate;
Publicação 18, Abadia de Montmajour, BTT nos moinhos com a equipa de Fontvieillie,
subindo a Les Baux-de-Provence e a sensacional #carrieresdelumieres;
Publicação 19, a despedida em Marselha;
Publicação 20, do Canal du Midi para o jornal Mais Ribatejo.
Fim de viagem a 10 de outubro de 2021.
Vítor Franco