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Porto na aldeia da Palhota, foto [e bicicleta] de Vítor Franco |
Um passeio de bicicleta pode ter o privilégio de ser uma
comunhão de desporto, cultura e contato com a natureza. Há um pequeno percurso
que assim o é: ligar a aldeia de Caneiras ao Porto da Palha.
Percurso plano, fácil, ao longo do dique que protege
povoações e terras das cheias que já quase desapareceram, perscrutarmos a
fertilidade da terra e a infertilidade do rio Maior / Vala Real de um lado e do
outro o Rio Tejo.
O percurso é hoje comum ao Caminho de Santiago pelo que
oportunidades para uma boa conversa não faltam.
Caneiras e Porto da Palha são algumas das aldeias avieiras
da região e é sempre um prazer visitá-las e trocar uns dedos de conversa com as
pessoas mais idosas.
As aldeias têm origem na migração dos pescadores da Vieira
de Leiria que procuraram no Tejo o sustento que o mar bravio da costa Oeste
lhes negava no inverno. Aqui chegavam contornando a costa de barco e subindo o
rio ou transportando este em carroças. Aqui chegavam com “um pouco de quase
nada”, convocados pelo sustento de um rio que lhes mataria a fome… Vivenciando
no barco todas as necessidades humanas, o povo avieiro foi um exemplo de um querer
humano ímpar…
Os parcos meios financeiros que foram conseguindo
permitiram-lhes fixarem-se, em inícios do século XIX, na borda-rio em casas
palafíticas e aldeias de forte carga identitária.
Neles se inspirou um grande escritor português: Alves Redol.
Médico de formação, escritor de paixão, cedo partilhou as vivências de um povo
pobre numa região a que foi dado o nome de Ribatejo. Entre lezírias inundáveis,
um bairro mais “industrializado” e uma charneca de grandes propriedades o
Ribatejo foi inspiração multifacetada para um escritor expoente do
neo-realismo.
Imbricado com a vida do povo, vivendo com ele como o fez na
aldeia da Palhota para escrever Avieiros, Alves redol sofreu a repressão e a
prisão fascista mas deixou-nos imensas estórias que fazem uma história
maravilhosa dos povos, culturas e vivências do Ribatejo. Estas culturas plurais,
que tornam o mito “toureiro / campino / forcado” uma minudência, podem ser
recordados em viagens de bicicleta.
Aqui, o objetivo é convocar a vossa curiosidade para o
passado e o presente. Documentários, fotos e links para sites ajudar-te-ão a um
olhar de prazer e admiração.
Clique em ler mais e "delicie-se".
Vítor Franco