sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Dia Internacional da Paz, 21 de setembro.

“92 países estão envolvidos em conflitos fora das suas fronteiras, o maior número desde a criação do IGP. E, segundo a ONU, há mais de dois mil milhões de pessoas cujas vidas são, hoje, afetadas por conflitos e guerras, havendo quase 120 milhões de deslocados devido a guerras, perseguições e outras formas de violência.” Jornal Público 19/09/2024.

“Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar/ Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar”. Esta é a primeira estrofe do poema “Cantata de paz”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, musicado por Francisco Fanhais. É uma canção poderosa, de uma mensagem e de uma voz que nos devia revolver as entranhas do pensamento e indagar sobre o que a humanidade anda a fazer.

Vale a pena pensar, ao menos este dia que foi declarado pela ONU em 30 de novembro de 1981. O dia que se dedica à paz mundial acontece quando o mundo está envolvido na maior violência pós-segunda guerra mundial.

A jornalista do Público, Carla Ribeiro, no seu interessante artigo, entrevista o escritor José Luís Peixoto que – muito acertadamente – diz que o “conflito torna-se tão normal nas nossas vidas que dá a sensação de que estamos todos um bocadinho adormecidos”. “É o resultado, diz, de uma certa desumanização, também alimentada pela banalização dos temas e da forma como os tratamos”. Em sequência, Carla Ribeiro convoca uma frase do raper Mário Cotrim, ProfJam, que “vê nessa desumanização o reflexo da paz orwelliana, onde a guerra é a paz e que a paz se faz pela guerra”.

A violência assume várias formas, como as de comércio, de ideologia e alienação, de domínio político e militar. A violência entra-nos todos os dias pelos noticiários e fez de vários canais TV, como a CMTV e vários canais crime, lugares de conquistas de audiências. Milhões de pessoas dedicam horas de cada um dos seus dias a ver e ouvir violência, e gostam. A TV e os jogos na net são responsáveis, penso eu, pela exacerbada proliferação de atos violentos inacreditáveis feitos por crianças em escolas. Agora, até em Portugal.

É o efeito da popularização da violência sobre as crianças que me preocupa mais. As crianças são as que sofrem as mais duras consequências da guerra e da violência. Há meninos, que por vezes são obrigados a ser homens armados, meninos-soldados, meninos sem meninice, até meninos forçados a ter ódio!

As crianças estão na “linha da frente” dos refugiados, na fome, na privação da escola, na saúde ou no afeto. Há um mês li um artigo [veja aqui] sobre o menino Khalil num sítio da BBC. O menino sírio, que cruzou cinco países da Europa a pé, ”tinha apenas seis anos quando deixou a Síria, palco de confrontos diários, no auge de uma guerra civil”. Como o menino Khalil, o menino Stefan que fugiu da morte do nazismo e que no Museu Aristides de Sousa Mendes “fala” [agora já um velhinho] com outro menino refugiado de uma das guerras contemporâneas. Antes, como na fuga das 10 000 crianças refugiadas judias de comboio no kindertransport, agora como as crianças que fogem de barco atravessando o Mediterrâneo e quantas as que morrem afogadas.

Talvez o dia 21 motive algo de positivo aos vários governantes de vários países da Europa que estão a expulsar os refugiados que cá chegam, fugidos da fome e da guerra, devolvendo-os ao mar, à morte, ou às ditaduras a quem os países europeus pagaram para lá expulsar os seres humanos refugiados. 
Vítor Franco

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

11 de setembro, de más memórias! (Texto e podcast)

New York City Ground Zero. Foto Depositphotos

Quando o calendário marca o dia a nossa memória recua no baú do tempo e traz-nos as brutais e impactantes imagens dos ataques terroristas nos EUA em 2001. As terríveis imagens dos aviões a embater contra as torres gémeas provocaram uma comoção global, 3 mil mortos e centenas de feridos.

Este ataque talvez marque uma viragem nos ataques terroristas: eles passaram a ser planeados com muita antecedência, ação de surpresa, envolvendo meios humanos especializados, equipamentos e conhecimentos avançados, ataque simbólicos / de mensagem forte e mediatização global do horror provocado.

O mundo interrogou-se como foi possível um ataque desta dimensão, astúcia e “eficácia”, ao centro do centro do império global. Uma “nova” narrativa surgiu desse ataque: a luta entre os bons e os maus, a luta entre civilizações e entre religiões. O racismo e o militarismo substituiram a razão.

O ataque terrorista às torres gémeas foi feito precisamente pelas correntes fundamentalistas e religiosas que se agruparam na Al-Qaeda e que os próprios EUA tinham apoiado financeiramente para treino e armas, para estas se oporem ao exército russo que ocupava o Afeganistão.

Em dezembro de 2001 as Nações Unidas aprovam a criação da Força Internacional de Apoio à Segurança, liderada pelos EUA e pela NATO. O império, ferido, tinha de se “vingar” – o seu poder não podia ser posto em causa. O presidente George W. Bush decide iniciar o seu ataque, denominado "Liberdade Duradoura"” em 7 de outubro de 2001. Coincidência, ou talvez não, o ataque terrorista do Hamas também foi a um 7 de outubro.

A invasão do Iraque

A teoria de combate militar ao “eixo do mal” / “guerra ao terror” leva os EUA a atacarem o Iraque em 2003. Portugal fica tristemente marcado pela cimeira das Lajes, 16 de março, com Durão Barroso, George Bush, Tony Blair e José Maria Aznar, que sinalizou o início da invasão sob o argumento – provado como falso – que o ditador Saddam Hussein estava a produzir armas químicas de destruição em massa. A guerra que chegou a ter mais de 150 mil soldados da força internacional teve como consequência mais de 600 mil iraquianos mortos, milhares de refugiados, um país destruído, o crescimento do ódio fundamentalista e extremista de vários grupos – incluindo da própria Al-Qaeda. Todos os objetivos falharam. O sofrimento do povo aumentou!

Afeganistão, mais uma prova do fracasso da guerra!

Teoricamente a “comunidade internacional” esforçou-se por apoiar os governos pró-ocidentais de Cabul. A Conferência de Doadores de Tóquio para a Reconstrução do Afeganistão, janeiro de 2002, concede 4,5 bilhões de dólares a um fundo gerido pelo Banco Mundial. Eram objetivos: a modernização técnica, infraestrutural e de serviços públicos. Desconheço o resultado dessa avultada aplicação de dinheiro. O que é certo é que a oposição extremista voltou a crescer e estabelece-se uma ofensiva talibã, em 2021, em que o poder cai como um baralho de cartas. Os soldados governamentais passavam-se para os adversários e a sua entrada em Cabul foi como faca em manteiga no verão. Tudo falhou!

Mais uma vez: a teoria da guerra como solução para o combate ao extremismo falhou.

Mais uma vez se prova que ideias não se combatem com armas, que o populismo extremista ocidental não só não combate o extremismo fundamentalista, terrorista e religioso, como o faz crescer exponencialmente. Mais ainda, é no próprio ocidente que faz crescer movimentos fundamentalistas, extremistas, ódios, racistas e até neonazis e fascistas.

Nota final

Foi também num 11 de setembro, em 1973, no Chile, que foi desencadeado um golpe militar que destruiu a democracia, um governo e o presidente, Salvador Allende eleitos pelo povo, instaurando uma sanguinária ditadura chefiada pelo general Augusto Pinochet.

Também aqui esteve o apoio militar e financeiro do governo dos Estados Unidos e da CIA, bem como de organizações terroristas chilenas, nacionalistas-neofascistas, como a Patria y Libertad.

… “São coisas do Mundo/ Retalhos da Vida/ São coisas de qualquer lugar/ Mas se eu fico mudo/ Esse mundo imundo/ É capaz de me tentar mudar”. In “Retalhos”, de Alcione [1976].

Vítor Franco

REGRESSO DA GALDÉRIA

A galdéria vai para casa. O problema é que fez uma birra, quis ir num saco almofadado. A menina é exigente, uff, não é fácil aturá-la... Bem...