quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Fotos de Santarém

Fotos da autoria de quem sabe fotografar: Salomé Glórias.
Captar os momentos, as cores e as perspetivas certas; tornar inequivocamente belo o que nos passa diariamente como vulgar; tornar interstícios de um azulejo em pontos de beleza e atenção (...), pois...
Com um obrigado à autora, aqui ficam algumas fotos deste burgo da "beira" Tejo.
Créditos e fotos aqui.
Nota: propositadamente as fotos não levam legenda.




domingo, 29 de dezembro de 2019

domingo, 22 de dezembro de 2019

"A terra fervente". De bicicleta pela cheia no Ribatejo.

"A terra fervente". De bicicleta pela cheia, por zonas seguras claro, para mostrar alguns aspetos positivos da cheia. Acho que vai gostar!


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

De bicicleta pelas aldeias avieiras


Porto na aldeia da Palhota, foto [e bicicleta] de Vítor Franco
Um passeio de bicicleta pode ter o privilégio de ser uma comunhão de desporto, cultura e contato com a natureza. Há um pequeno percurso que assim o é: ligar a aldeia de Caneiras ao Porto da Palha.
Percurso plano, fácil, ao longo do dique que protege povoações e terras das cheias que já quase desapareceram, perscrutarmos a fertilidade da terra e a infertilidade do rio Maior / Vala Real de um lado e do outro o Rio Tejo.
O percurso é hoje comum ao Caminho de Santiago pelo que oportunidades para uma boa conversa não faltam.
Crédito de foto: Associação de Amigos das Caneiras
Caneiras e Porto da Palha são algumas das aldeias avieiras da região e é sempre um prazer visitá-las e trocar uns dedos de conversa com as pessoas mais idosas.

Foto de Caneiras, crédito no site Associação de Amigos das Caneiras

Porto da Palha, Foto [e bicicleta] de Vítor Franco
As aldeias têm origem na migração dos pescadores da Vieira de Leiria que procuraram no Tejo o sustento que o mar bravio da costa Oeste lhes negava no inverno. Aqui chegavam contornando a costa de barco e subindo o rio ou transportando este em carroças. Aqui chegavam com “um pouco de quase nada”, convocados pelo sustento de um rio que lhes mataria a fome… Vivenciando no barco todas as necessidades humanas, o povo avieiro foi um exemplo de um querer humano ímpar…

Créditos de Foto: Maria de Lurdes Farinha, peça de teatro "Gente do nosso pano" de José Gaspar
Os parcos meios financeiros que foram conseguindo permitiram-lhes fixarem-se, em inícios do século XIX, na borda-rio em casas palafíticas e aldeias de forte carga identitária.
Neles se inspirou um grande escritor português: Alves Redol. Médico de formação, escritor de paixão, cedo partilhou as vivências de um povo pobre numa região a que foi dado o nome de Ribatejo. Entre lezírias inundáveis, um bairro mais “industrializado” e uma charneca de grandes propriedades o Ribatejo foi inspiração multifacetada para um escritor expoente do neo-realismo.


Capa de livro, editora Bertrand
Imbricado com a vida do povo, vivendo com ele como o fez na aldeia da Palhota para escrever Avieiros, Alves redol sofreu a repressão e a prisão fascista mas deixou-nos imensas estórias que fazem uma história maravilhosa dos povos, culturas e vivências do Ribatejo. Estas culturas plurais, que tornam o mito “toureiro / campino / forcado” uma minudência, podem ser recordados em viagens de bicicleta.
Aqui, o objetivo é convocar a vossa curiosidade para o passado e o presente. Documentários, fotos e links para sites ajudar-te-ão a um olhar de prazer e admiração.
Clique em ler mais e "delicie-se".
Vítor Franco



quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Estórias do Danúbio: a caixa de revistas pornográficas

Rio Danúbio tinha inundado as margens
Este foi talvez o dia mais engraçado versus peripécias:

1ª Estava em dormida solidária em Eching. Depois de dois dias de visita a Munique e Dachau chegou o dia de partir de bike rumo ao Danúbio. Estação de comboio de Eching: ops, não consigo tirar o bilhete para a bicicleta nas máquinas automáticas, alternativa tirar só bilhete para mim e sujeitar-me a multa se for apanhado… Penso: isto na Alemanha disciplinada é muito mal visto… Pois, volto a tentar noutra máquina, e noutra… Os comboios vão passando… Vou arriscar… Uff, safei-me…

2ª Na enorme estação de comboio de Munique estava uma “pilha” de gente. Pessoas, carros de bagagem e bicicletas passavam-me pela esquerda e pela direita, quase parecia a “medina de Marraquexe” eh eh eh, procuro um canto e fico a observar as pessoas, tento descobrir o WC, era ao fim das escadas… Uff, não vou descer isto com a bike… Aguentei… Começo a dar umas voltas pela estação: onde estaria a bilheteira? Foi fácil encontrá-la, esperava uma fila gigante mas os atendimentos eram muitos e fui logo atendido. Pedi um bilhete para Ingolstadt, a menina tinha dificuldade em entender mas lá foi. Bilhete para bicicleta e para mim, fez uma bola na hora de partida e no cais de embarque. Porreiro, penso, é fácil. Meia hora antes já estava no cais nº 2. O comboio chega e sai imensa gente, imensa gente começa a entrar… procuro o símbolo da bicicleta nas carruagens, não o vejo… Deixo as pessoas entrarem e vou tentar entrar com a bike. Ops… apitos incessantes… Uma funcionária exaltada apitava-me e ralhava comigo, em alemão claro. Claro está que percebia tudo eh eh eh, népias… Afinal aquele comboio não admitia bicicletas, mostro-lhe os bilhetes, era aquela hora, aquele cais e aquele comboio… Ralhou mais… Chegou-se um outro funcionário que me explicou então que teria de tomar outro comboio embora o destino fosse o mesmo, indicou-me o cais… A “apitadeira-ralhadeira” foi dar partida ao comboio… Mudei de cais, esperei… E eu sem urinar… Prendi a bike com cadeados num separador e fui aliviar a bexiga, uff, 

3ª Eram 13h, 12h de cá, tinha-me levantado às 6h de lá, a fome apertava. As bolachas de arroz e as bananas já estavam a cargo do suco gástrico há um tempo… Só estaria em Ingolstadt por volta da 14h… Conclusão: tinha de violar uma regra! Após aturada reflexão concretizo a violação: duas carcaças grandes com queixo, tomate, chourição, dois croissants e um sumo. Regra violada: estava a comer glúten… Mas um intestino sportinguista, mesmo intolerante, está habituado às dificuldades, aguentou…
O Danúbio em Ingolstadt
4ª Ingolstadt, saio do comboio, espero ver os passageiros sair para saber onde era a saída e lá vou. Finalmente comecei a pedalar, sigo a direção do rio, num cruzamento vejo uma senhora aproximar-se, ruiva, vejo uns olhos azuis muito brilhantes e umas pintinhas na cara, uff, ciclista sofre, uff, pergunto e indica-me o caminho, apanho o rio, Eurovelo 6 indica uma placa, perfeito, faço cerca de 20 kms, o canto das aves é permanente, passo por um grupo acampado junto ao caminho, todos de negro e com várias bandeiras negras de cruz celta muito usadas por grupos de extrema-direita, finjo que não os vejo, sigo, tiro o telemóvel e faço um direto no facebook para partilhar a beleza da natureza…

Central térmica
5ª Passo à central térmica de Irsching, tiro fotos e mando a amigos da EDP, por uma ponte passo para norte do rio e sigo por cima do dique, desço, fico entre o rio e um seu braço, paisagens lindas, mas o rio tinha subido antes e o caminho passou a lama, lama mais lama, empurro a bike sempre em frente, já nem mudanças metia, mas a lama haveria de acabar, assim foi em Hinheim, tento tirar o maior com um pau, consulto o mapsme, tinha um local de acampamento a uns 6 kms, pedalo, corto à esquerda e começo a subir, a subir por uma estrada estreita, uma avioneta aterra, afinal tinha-me enganado, fui parar a um aeródromo, volto para trás, apanho a estrada principal, mais à frente corto à direita, desço para a margem do rio, encontro uma quinta, a de Armin Trübswetter, não havia ninguém, nem um cão, chamo sem resultado, toco a campainha da bicicleta, nada, entro na quinta, procuro o local de acampamento, vejo um pequeno edifício de apoio em madeira com tomadas e torneiras, olho em frente: o rio tinha inundado o local, bbbzzzz, espero, nada, pego numa mangueira e lavo bem a bicicleta, ao fundo vejo três mulheres e um jovem na minha direção, espero, quando chegam perto de mim pergunto pelo local de acampamento, apontam para o local inundado e riem-se, e seguem, bbbzzzz, mandei-os dar banho ao cão em português, também não havia cão, só ouvia umas vacas, bati a uma porta da casa grande, ninguém responde, nem cão…

6ª Recomeço a pedalar, subo para retomar a estrada principal de novo, no cruzamento encontro um casal em bicicletas, deveriam estar na casa dos 50 anos, deviam ser de perto pois nem água traziam, riam muito a ver uma revista, chego perto, olho, estava um caixote cheio de revistas pornográficas no chão, riam-se, demoraram a dar por mim, riam-se, quando dão por mim meto conversa, sou português, começo sempre assim: “sou português e não sei bem a língua alemã”, deixam de rir, explico de onde vinha e pergunto por um parque de campismo, simpáticos explicam, só tinha que seguir até Essing e cortar à esquerda até encontrar um parque. Retomo a pedalada, sempre a subir, floresta de um lado e outro, mal sabia eu que no dia a seguir a teria de subir à mão por trilhos de lama(...)



e arvoredo fechado, 


começo a descer e corto à esquerda para Essing, continuo pedalando, não vejo o parque de campismo, volto para trás, deveria ter entrado entre o rio Naab e um seu canal, apanho o trilho e chego ao camping de Landgasthof Kastlhof. 

7ª Um lugar paradisíaco. Monto a tenda, tomo um banho, como um excelente jantar no restaurante, descontraio junto ao rio, dormi bem. O dia tinha sido engraçado!

domingo, 15 de setembro de 2019

A independência de Portugal também se deve aos catalães


Quando em 1 de Dezembro de 1640, o secretário de Estado Miguel de Vasconcelos foi lançado pela janela do Paço Real de Lisboa e a vice-rainha de Portugal foi “guardada em recato” deu-se a declaração da restauração da independência do nosso país.

Mas esse ano regista também a morte de um segador [em português: ceifeiro] na Catalunha, daí a morte do líder do principado e posterior guerra Espanha – França. Em 26 de janeiro de 1941 a República Catalã declara-se independente; mais tarde fica sob protetorado da França. A guerra dura 30 anos. Após ter recuperado a Catalunha, Castela, já exausta, lança-se a Portugal. Após escaramuças, batalhas, golpes (…) a paz só acaba sendo assinada em 1668. Olivença continuará ocupada por Espanha. Portugal tinha ganho tempo para agrupar forças e beneficiado da revolta catalã.

A tentativa dos catalães se libertarem da opressão castelhana coincidiu com a portuguesa – por certo propositadamente. A diferença é que a rica Catalunha era prioritária e só em 1652 a França abdicou das suas “pretensões” tendo mesmo assim ficado com a chamada Catalunha do Norte.

Em 1873 um Estado Catalão é proclamado e integrado na Primeira República Espanhola. Em 1931 a República Catalã proclama-se como parte autónoma na Segunda República Espanhola.

Em janeiro de 1939 a República Catalã sucumbiria ao ataque das forças fascistas de Franco apoiadas por Hitler e Mussolini. Pouco tempo depois cairia Madrid. 500.000 mortos depois. Começaria a longa noite das trevas nos países do estado vizinho…

Estas notas, híper-resumidas são suficientemente elucidativas para se perceber que a história ibérica não é só uma “birra” entre os valentes lusitanos e aqueles de onde “não vem nem bom vento nem bom casamento”.

Há uns anos visitei o excelente Museu da História da Catalunha (http://www.mhcat.cat/), num périplo que fiz pelo país. Tal como no País Basco há uma cultura própria bastante distinta e isso é patente nesse museu.

A Catalunha é um território definido, tem uma língua própria, uma história e uma identidade próprias. Até o domínio na net não acaba em .es mas em .cat.

O que se coloca agora em questão é: porque é que o Estado Espanhol não autoriza um referendo à independência da Catalunha? Que receio têm as forças espanholistas do voto democrático e livre se até dizem ser a maioria? Porque é que no século XXI se recorre à prisão política de pessoas só porque tentaram organizar um referendo não tendo praticado qualquer ato violento?

Na minha opinião, o “espanholismo” enquanto corrente ideológica que quer ser autoritária sobre os restantes povos da Península Ibérica não perdoa a quem deseja o elementar direito a decidir. O “espanholismo” ainda hoje é expressão organizada de uma força económica, “feudal” e burguesa ao mesmo tempo, dominadora das riquezas de outros povos de que a Catalunha é exemplo.

Na Catalunha, a disputa pelo direito a decidir ter ou não a sua Nação junta sectores sociais e económicos muito vastos – e isso só é possível quando as raízes são muito fundas.

Afinal, no século XXI, a democracia ainda é tão difícil! A democracia ainda mete tanto medo que se prendem democratas!

Deixo-vos com a música e a letra do hino da Catalunha, Els Segadors, e com o apelo de Pep Guardiola:

“Apelamos à comunidade internacional para que se posicione claramente a favor da resolução deste conflito na base do diálogo e o respeito. Só há um caminho: sentarem-se a falar”.

https://www.youtube.com/watch?v=kBlj25XgFgA

Vítor Franco

Pereiro, onde as casas morrem com as pessoas!

O bairro do Pereiro foi o da minha criação, assim diria a minha mãe. A senhora Alice tinha uma mercearia no Largo dos Capuchos, mais conheci...